Protesto anti-Israel

Invasão em aeroporto no Daguestão: o que se sabe sobre ataque na república da Rússia contra voo de Israel

Presidente russo, Vladimir Putin, convoca reunião com órgãos de segurança para discutir acontecimentos no Daguestão

Rio de Janeiro |
Captura de um vídeo postado no Telegram em 29 de outubro de 2023 mostra manifestantes na área de pátio de um aeroporto em Makhachkala - Telegram / @askrasul / AFP

Centenas de pessoas invadiram o aeroporto de Makhachkala, na república russa do Daguestão, na noite do último domingo (29) em um ataque contra passageiros que vinham de Tel Aviv. A invasão chegou até a pista de pouso e tinha como alvo cidadãos israelenses que estariam em um voo da companhia Red Wing. A empresa opera voos regulares de Israel ao Daguestão. 

Os relatos apontam que os manifestantes chegaram ao aeroporto para atacar "refugiados de Israel". A invasão foi consequência da disseminação de informações pelo canal Telegram de que o avião de Tel Aviv pousaria na noite de domingo, que levou a uma aglomeração de pessoas na entrada do aeroporto em um ato anti-Israel em conexão com a escalada da violência do governo de Benjamin Netanyahu contra os palestinos na Faixa de Gaza. Em algum momento, parte dos manifestantes furou o bloqueio policial e invadiu a pista de pouso.

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Segundo o Ministério da Saúde do Daguestão, mais de 20 pessoas ficaram feridas durante os acontecimentos no aeroporto - tanto forças de segurança como civis: mais de dez sofreram ferimentos leves, dez foram levados a hospitais, dois ficaram em estado extremamente grave.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que a multidão que invadiu o aeroporto chegou a cercar o avião que chegava de Tel Aviv na pista de pouso e tentou ter acesso ao avião, sem sucesso. 

Em um dos registros, divulgados pela jornalista Yulia Vityazeva no canal Telegram, é possível ver os primeiros passageiros que começaram a sair do avião, mas a tripulação da aeronave pediu que voltassem a bordo quando os manifestantes se aproximavam cercando a aeronave.

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"Este é o comandante falando. Por favor, permaneça sentado e não tente abrir as portas da aeronave. Há uma multidão furiosa na rua que não sabe de onde viemos nem porquê", diz a publicação.

Os manifestantes chegaram a verificar os documentos das pessoas que saíam do aeroporto. De acordo com um vídeo veiculado nas redes, em particular, um jovem que se dizia uzbeque foi confundido com um judeu – cerca de 20 pessoas o cercaram e se recusaram a devolver seu passaporte.

Nesta segunda-feira (30), autoridades russas informaram que o aeroporto de Makhachkala foi novamente aberto para operar em plena conformidade. A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia observou que os voos das companhias aéreas Azimuth e Red Wings de Tel Aviv para Mineralnye Vody e Makhachkala serão temporariamente desviados para outras cidades russas.

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Já o serviço de imprensa do Ministério de Assuntos Internos da Rússia para o Norte do Cáucaso relatou que o aeroporto de Makhachkala "está totalmente sob o controle das agências de aplicação da lei". "Os motins foram reprimidos", enfatizou a polícia local, acrescentando que até à manhã desta segunda-feira (30), "mais de 150 participantes ativos nos motins" tinham sido identificados. 

O chefe da república do Daguestão, Serguei Melikov, por sua vez, ao comentar os tumultos, declarou que "não haverá perdão para ninguém". "Foram feitas gravações de vídeo e fotográficas, por isso ninguém deve escapar à responsabilidade", disse aos jornalistas, acrescentando que "foram abertos processos criminais sobre uma série de fatos que se tornaram um precedente para os acontecimentos de ontem".

Ele atribuiu a organização dos tumultos no aeroporto a "inimigos" da república, sem especificar que seriam estes inimigos. “Já não é segredo para ninguém que as tentativas de desestabilizar a situação no Daguestão e criar um pano de fundo de protesto, incluindo a utilização de métodos proibidos associados ao incitamento ao ódio étnico e a problemas inter-religiosos, estão sendo levadas a cabo pelos nossos inimigos”, disse Melikov.

O presidente russo, Vladimir Putin, realizará nesta segunda-feira (30) uma reunião com os chefes das agências de aplicação da lei do país para discutir os acontecimentos no Dagestão. De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em particular, serão discutidas  "as tentativas do Ocidente de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade". 

"O presidente sempre prestou e continua prestando grande atenção a este tema. Só na semana passada realizou uma reunião detalhada com os líderes religiosos russos, onde este tema foi discutido", disse Peskov aos jornalistas.

Edição: Leandro Melito