Com muita música teve início nesta segunda-feira (6), a celebração do Novembro Antirracista Unificado, em Porto Alegre, com cerimônia de homenagem ao Bará do Mercado. Como no ano passado, durante todo novembro, o Mês da Consciência Negra será marcado no Rio Grande do Sul com atividades em diversos municípios.
“Hoje mais uma vez estamos aqui neste lugar simbólico que é o Mercado Público, onde para nós tudo começa, aonde nós chegamos, onde nós sofremos, e que um Bará assento que nos deu força para chegar onde chegamos. E é muito importante o simbolismo de tudo isso, de começar aqui onde tudo começou, porque a gente tem trabalhado muito a nossa ancestralidade. Os povos tradicionais de matriz africana são mais do que uma religião, eles são uma tradição. É a forma de se alimentar que representa o Mercado Público, é a forma de viver que representa o Mercado Público”, afirma a presidenta da União de Negros e Negras pela Igualdade no Rio Grande do Sul, Elis Regina.
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No coração do Mercado Público de Porto Alegre, um mosaico de pedras e bronze, na encruzilhada dos quatro corredores centrais do local, ornamentado com sete chaves, faz homenagem ao Bará, o orixá que para as religiões de matriz africana tem o poder de abrir caminho. Tombado como patrimônio histórico-cultural de Porto Alegre pela Câmara de Vereadores, em dezembro de 2020, o local foi escolhido para iniciar o mês da Consciência Negra.
"Estamos construindo atividades em todo o estado, com um calendário unificado, onde o movimento negro e o movimento sindical se reuniram para fazer que esse novembro seja maravilhoso" / Foto: Jorge Leão
"Estamos construindo atividades em todo o estado, com um calendário unificado, onde o movimento negro e o movimento sindical se reuniram para fazer que esse novembro seja maravilhoso. Essa cerimônia de abertura, é uma homenagem ao Bará do Mercado, porque ele, na nossa religião de matriz africana, é aquele que abre os caminhos. Então nós vamos abrindo o novembro negro unificado, com uma grande homenagem ao Bará”, explica o integrante do Coletivo de Igualdade Racial do Sindicato do Servidores da Justiça (Sindjus) e integrante da coordenação do Novembro Negro Unificado Luiz Mendes.
Novembro de luta, resistência e alerta
“Esse é um novembro que vem recheado de coisas difíceis para nós, onde a gente descobre que o Banco do Brasil, depois da abolição do escravidão, financiou dinheiro para esse colonizador trazer mais escravos. Então, mais uma vez, reitera a política, como política de Estado e não de governo. Essa política que foi construída para usar os seres humanos como se eles fossem animais e, nisso construir grandes riquezas que não são divididas e que hoje a gente vê a luta do nosso povo negro no Brasil inteiro, para vencer a violência, para não ser marcado na paleta para morrer, para ter acesso. O que a gente vem buscar aqui é realmente política pública inclusiva, é respeito, é amor”, afirma Elis Regina.
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Conforme ressalta, todo mundo quer ser feliz e ter lugar. “Contudo enquanto um come caviar e dez mil comem papelão, o Brasil não será um país desenvolvido e democrático de verdade. A gente quer ver o nosso povo se alimentando bem, sem agrotóxico. Os orixás têm mostrado a força deles e a retomada do território. É isso que nós discutimos também, o racismo ambiental, porque são as comunidades que não têm água potável, que não têm esgoto ou é de qualquer jeito, é a comunidade que adoece. E os orixás têm mostrado, precisamos acordar para essas coisas.”
“Estamos aqui hoje marcando o início, a abertura do mês da consciência negra, o início das articulações da marcha Zumbi e Dandara tão importante para o nosso Brasil. Pautar políticas públicas, por nosso povo preto, mas também buscar estratégia de combate a esse racismo que cada dia cresce mais, tanto o racismo estrutural e estruturante quanto racismo religioso”, destaca o presidente do Conselho Estadual do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul e coordenador da Rede Nacional de Religião Afro-Brasileira e Saúde, Baba Diba de Iyemonjà.
* Com a colaboração de Jorge Leão.