Palestina

Carta assinada por 61 deputados pede cessar-fogo na Faixa de Gaza e convocação do embaixador do Brasil em Israel

Documento foi apresentado em ato na Câmara nesta quarta; participantes pediram ao governo postura mais dura com Tel Aviv

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Carta apresentada por parlamentares lembra que ampla maioria dos países-membros da ONU aprovou uma resolução pedindo cessar-fogo urgente - Camila Araújo

Uma carta assinada por 61 parlamentares brasileiros, apresentada durante ato na Câmara dos Deputados contra o genocídio do povo palestino e pelo cessar-fogo realizado nesta quarta-feira (8), pediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convoque o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, a exemplo do que fizeram recentemente os governos do Chile e da Colômbia. 

"Solicitamos ao governo brasileiro que chame o embaixador do Brasil em Israel para consultas e que não se promulgue os acordos de cooperação militar e de segurança assinados por Bolsonaro com Israel", diz o documento.

A carta lembra ainda que a ampla maioria dos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução pedindo por um cessar-fogo urgente, "mas Israel declarou que não tem intenção de parar e intensificou os ataques contra o povo palestino" (leia o documento na íntegra ao final desta matéria).

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Uma das resoluções pelo cessar-fogo apresentada no Conselho de Segurança da ONU, a que chegou mais perto de ser aprovada, foi a do governo brasileiro, mas que acabou sendo rechaçada com um único voto contrário, dos Estados Unidos, país que tem poder de veto no organismo.

No ato da Câmara, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) destacou que é preciso endurecer em relação a Israel e que acredita que o governo brasileiro assim o fará depois que brasileiros em Gaza forem evacuados.

A Embaixada do Brasil na Palestina informou nesta quarta-feira (8) que os mais de 30 brasileiros e parentes que permanecem no sul da Faixa de Gaza ficaram de fora da sexta lista de pessoas autorizadas a deixar o território. "É impossível manter relações políticas como se nada estivesse acontecendo", acrescentou a parlamentar.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou que o governo de Israel tinha prometido liberar o grupo, que permanece nas cidades de Rafah e Khan Yunis, perto da fronteira com Egito, até esta quarta.

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Para o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o ato "tem como objetivo a busca da paz, e a busca da paz se faz com o fim da colonização e do apartheid".

Além de Glauber e Jandira, outros deputados federais que convocaram o evento na Câmara foram Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Luizianne Lins (PT-CE) e Padre João (PT-MG). A cerimônia também contou com a presença de embaixadores de Síria, Argélia, Líbano, Líbia, Irã, Qatar, Turquia, Egito, Cuba, Venezuela e Tunísia.

Ibrahim Alzaben, embaixador da Palestina no Brasil, fez a primeira fala no plenário e declarou que "a independência e a libertação do povo palestino está mais próxima do que nunca".

Inicialmente marcado para as 14h, o ato só pode começar por volta das 15h, devido a um provocação do deputado bolsonarista Abilio Brunini (PL-MT), que tentou ofender os participantes do evento.

"Quero mostrar que essa é provocação e agressão repetida diariamente na Palestina, com uma pequena diferença: normalmente termina com sangue, morte e detenções", disse Alzaben.

Ele acrescentou que "mesmo com toda a dor, nossa mão sempre vai estar estendida pela paz", e concluiu dizendo que "aqueles que esperam que o povo palestino desapareça podem esperar sentados".

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Qais Shqair, embaixador da Liga Árabe no Brasil, disse que "a causa palestina é a primeira causa de todo o mundo árabe" e que a solução para a Palestina é também uma questão de todos os países da liga.

O presidente da Federação Árabe Palestina (FEPAL), Ualid Rabah, ressaltou a importância da solidariedade com o povo palestino e lembrou que esse sentimento "foi o que acabou com o apartheid na África do Sul e com todos os governos despóticos do mundo".

Na mesma linha, o jornalista Breno Altman lembrou que é um momento crucial para a história. "É preciso que o nosso governo lidere a América do Sul na pressão sobre o governo colonial de Israel para que pare o massacre na Faixa de Gaza", disse, o fundador de Opera Mundi.

Leia a carta na íntegra:

Hoje, 8 de novembro, se completa um mês desde o início dos bombardeios de Israel à Faixa de Gaza. Como disse o presidente Lula, nada pode justificar este genocídio: mais de 10 mil pessoas já foram mortas em Gaza, cerca de metade delas crianças. Além disso, centenas de milhares de casas foram destruídas e toda a população sofre com as restrições ilegais e desumanas de acesso a água, comida, energia e internet. Na ONU, a ampla maioria dos países aprovou uma resolução chamando por um cessar-fogo urgente, mas Israel declarou que não tem intenção de parar e intensificou os ataques contra o povo palestino. Nesse contexto, a ação da comunidade internacional é de suma importância, de modo que:

1. Ecoamos o chamado por um cessar-fogo urgente e pela garantia de corredores humanitários que possibilitem a entrada de ajuda à população de Gaza e a saída dos brasileiros que ali se encontram;

2. Urgimos ao governo brasileiro que atue energicamente pelo fim do genocídio, da ocupação e do apartheid, em defesa do respeito ao direito internacional e às resoluções da ONU;

3. Solicitamos ao governo brasileiro que chame o embaixador do Brasil em Israel para consultas e que não se promulguem os acordos de cooperação militar e de segurança assinados por Bolsonaro com Israel.

Deputadas/os que assinam:

1.    Erika Kokay (PT/DF)

2.    Fernanda Melchionna (PSOL/RS)

3.    Glauber Braga (PSOL/RJ)

4.    Jandira Feghali (PCdoB/RJ)

5.    Luizianne Lins (PT/CE)

6.    Padre João (PT/MG)

7.    Adriana Accorsi (PT/GO)

8.    Airton Faleiro (PT/PA)

9.    Alencar Santana (PT/SP)

10.    Alexandre Lindenmeyer (PT/RS)

11.    Alfredinho (PT/SP)

12.    Alice Portugal (PCdoB/BA)

13.    Ana Paula (PT/PR)

14.    Ana Pimentel (PT/MG)

15.    Bohn Gass (PT/RS)

16.    Carol Dartora (PT/PR)

17.    Chico Alencar (PSOL/RJ)

18.    Daiana Santos (PCdoB/RS)

19.    Dandara (PT/MG)

20.    Daniel Almeida (PCdoB/BA)

21.    Dr Francisco (PT/PI)

22.    Erika Hilton (PSOL/SP)

23.    Fernando Mineiro (PT/RN)

24.    Guilherme Boulos (PSOL/SP)

25.    Helder Salomão (PT/ES)

26.    Ivan Valente (PSOL/SP)

27.    Jack Rocha (PT/ES)

28.    João Daniel (PT/SE)

29.    Jorge Solla (PT/BA)

30.    José Airton (PT/CE)

31.    José Guimarães (PT/CE)

32.    Joseildo Ramos (PT/BA)

33.    Juliana Cardoso (PT/SP)

34.    Kiko Celeguim (PT/SP)

35.    Leonardo Monteiro (PT/MG)

36.    Lindberg Farias (PT/RJ)

37.    Luiza Erundina (PSOL/SP)

38.    Márcio Jerry (PCdoB/MA)

39.    Marcon (PT/RS)

40.    Maria do Rosário (PT/RS)

41.    Merlong Solano (PT/PI)

42.    Natália Bonavides (PT/RN)

43.    Nilto Tatto (PT/SP)

44.    Pastor Henrique Vieira (PSOL/RJ)

45.    Patrus Ananias (PT/MG)

46.    Paulão (PT/AL)

47.    Pedro Uczai (PT/SC)

48.    Professor Luciene (PSOL/SP)

49.    Reginete Bispo (PT/RS)

50.    Reimont (PT/RJ)

51.    Renildo Calheiros (PCdoB/PE)

52.    Rogério Correia (PT/MG)

53.    Rubens Otoni (PT/GO)

54.    Sâmia Bomfim (PSOL/SP)

55.    Tadeu Veneri (PT/PR)

56.    Talíria Petrone (PSOL/RJ)

57.    Tarcísio Motta (PSOL/RJ)

58.    Túlio Gadelha (Rede/PE)

59.    Valmir Assunção (PT/BA)

60.    Vicentinho (PT/SP)

61.    Washignton Quaquá (PT/RJ)