central do brasil

Lei Orgânica da PM enfraquece controle civil das polícias, diz professora da UFF

Carolina Kristoff Grilo afirma que proposta foi aprovada sem diálogo e critica outros pontos do PL

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Policiais militares realizam operação contra traficantes de drogas na favela da Maré, no Rio de Janeiro, Brasil, em outubro de 2023. - CARL DE SOUZA / AFP

O Senado aprovou nesta terça-feira (7), em regime de urgência, a Lei Orgânica das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, que define deveres e direitos das corporações. O relator do texto é o senador Fabiano Contarato (PT-ES).

A proposta, que tramitou como PL 3045/2022, aprovada estabelece vedações, como a proibição da filiação partidária e da participação do profissional fardado ou armado em manifestações políticas ou reivindicatórias. O texto garante, ainda, prisão especial, seguro e assistência médica e jurídica aos policiais. O projeto vai agora à sanção presidencial.

:: Ex-ouvidor da PM de SP: 'Ação do Estado não pode ser por vingança' ::

A iniciativa enviada ao Congresso ainda no governo Bolsonaro é apoiada pelo atual governo e traz diversos pontos criticados por movimentos populares. Um deles prevê que os comandantes da PM responderão diretamente ao governador, o que pode abrir caminho para a extinção das Secretarias de Segurança Pública, o que deve resultar menos controle civil das PMs. A avaliação é de Carolina Kristoff Grilo, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenadora de pesquisas do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni). 

Grilo pontuou que a proposta pode fazer com que as instituições policiais não estejam submetidas a um controle político. "Isso permite que as polícias ajam de maneira autônoma segundo os seus próprios interesses corporativos, o que não é o ideal, uma vez que as PMs devem estar subordinadas ao interesse coletivo, interesse que deve ser construído democraticamente, com consulta e diálogo com a sociedade civil, algo que por intermédio das Secretaria de Segurança Pública é mais fácil", explica.

O projeto de lei também muda o modelo de ouvidoria das polícias, tornando-as subordinadas ao comandante-geral de cada PM, o que pode dificultar o controle externo. "Isso dificulta mais ainda um controle externo sobre as polícias, compromete a eficiência do trabalho dos ouvidores, que terão mais dificuldades. Eles acabam tendo o seu trabalho possivelmente impedido por questões do poder institucional interno das corporações e acabam sendo impedidos de processar adequadamente queixas da sociedade civil em relação à atuação de policiais."

Diante desse cenário, há um forte movimento da sociedade civil para que o projeto seja vetado pelo presidente Lula. Para Grilo, é importante que o projeto seja debatido e reformulado. "É extremamente necessário que exista uma Lei Orgânica das Polícias Militares e Bombeiros Militares, até porque atualmente as polícias ainda se encontram reguladas pelo Ato Institucional nº 5 da ditadura militar. É importante que exista uma legislação atual, mas ela precisa ser debatida com a sociedade civil. Isso seria uma excelente oportunidade para estabelecer controles externos à atividade policial."

"Tem uma série de pontos problemáticos que não foram debatidos democraticamente no contexto de elaboração desse projeto e que agora no contexto de um governo mais democrático, mais aberto ao diálogo esse debate deveria ser ser propiciado", acredita.

A entrevista completa está disponível na edição desta quinta-feira (9) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube. 

Assista agora ao programa completo:

E tem mais!

Justiça por Miguel 

Justiça pernambucana condena Sarí Corte Real em segunda instância pela morte do menino Miguel Otávio, em 2020.

Jornada de Lutas 

Movimento dos Atingidos por Barragens promoveu marchas em Brasília cobrando a aprovação de política nacional para definir quem são os atingidos e quais seus direitos; texto já foi aprovado em comissão do Senado.

Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras. 

Edição: Thalita Pires