ARGENTINA

Transição de governo na Argentina começa sem sorrisos e sem nomes para a equipe econômica

Javier Milei se encontra com Alberto Fernández após ter garantia de que Sergio Massa fica na Economia até fim do mandato

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Após uma campanha de fortes embates entre as propostas peronistas e ultraliberais, Fernández recebe Milei na residência oficial da Presidência - Maria Eugenia Cerutti / Presidência da Argentina / AFP

O atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, e seu sucessor, Javier Milei, se encontraram na manhã desta terça (21) na residência oficial da presidência, em Olivos, no subúrbio de Buenos Aires. O encontro rendeu uma foto de semblantes sérios e um comunicado breve por parte do governo, para informar que a reunião teve o objetivo de “iniciar o processo de transição institucional entre as equipes designadas por ambos nas diferentes áreas do governo”.

Alberto Fernández, que deixa o cargo no dia 10 de dezembro com o país imerso em profunda crise (inflação de 140% ao ano e 40% da população abaixo da linha de pobreza), é da corrente política peronista, criticada fortemente durante a campanha pelo futuro presidente, o ultraliberal Javier Milei, que derrotou Sergio Massa com a maior votação desde a redemocratização da Argentina, há 40 anos.

Inicialmente, esperava-se que o encontro entre o presidente que sai e o que entra ocorresse na segunda-feira, um dia após a eleição. Mas isso não ocorreu e a coalizão A Liberdade Avança, de Milei, divulgou comunicado anunciando que não havia nenhuma reunião prevista com Fernández, numa aparente tentativa de se desvincular de qualquer responsabilidade pelo que possa acontecer no país a partir de agora. “Até 10 de dezembro, o presidente Alberto Fernández e o ministro da Economia, Sergio Massa, são os responsáveis constitucionais pela situação dos argentinos”.

A ideia seria esperar para ver se Sergio Massa se licenciaria do cargo de ministro da Economia. Ao fim, o candidato derrotado confirmou que permanecerá na função até a posse de Milei.

O presidente eleito não anunciou quem será o próximo ministro da Economia. Por trás da formação da equipe econômica, está em jogo uma das batalhas principais dentro da aliança que o levou à vitória: o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), fiador de sua candidatura no segundo turno, depois que a candidata conservadora Patricia Bullrich saiu do páreo, pretende ocupar cargos importantes, com a ideia de criar um contrapeso ao ideário ultraliberal de Milei, que contém propostas como acabar com o peso e adotar de vez o dólar como moeda corrente.

Mas, segundo fontes de sua coalizão, Milei admite que embora haja a possibilidade de oferecer cargos a Macri, este não será um governo de coalizão, e sim um governo de A Liberdade Avança. Afinal, sua votação foi acima das expectativas. Por precaução, Macri se reuniu com Patricia Bullrich para sugerir nomes a serem apresentados a Milei.

Relações exteriores

Javier Milei  anunciou que viajará, antes de assumir o cargo, para os Estados Unidos e Israel. Para o o Ministério das Relações Exteriores de seu governo, ele confirmou o nome da economista ultraliberal Diana Mondino, conselheira de grandes empresas e uma das vozes mais polêmicas de sua campanha, ao falar sobre privatização de obras públicas, venda de órgãos e Malvinas.

Mondino postou uma imagem com Milei, seu colaborador Nicolás Posse e um teaser: “Trabalhando para reduzir o Estado e eliminar impostos”. A futura chanceler teve como primeira missão reunir as saudações internacionais dirigidas a Milei, que vieram dos governos dos EUA, Colômbia, Peru, Chile, Paraguai e Equador, além do ex-presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021).

Para a cerimônia de posse, Milei convidou pessoalmente  o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), que aceitou.O presidente Luiz Inácio Lula Da Silva, chamado por ele durante a campanha de “comunista raivoso” e “ladrão”, desejou “sucesso” ao novo governo eleito e deve enviar um representante à posse. “Pelo que conheço do presidente Lula, acho difícil que vá à posse, porque se sentiu pessoalmente ofendido, mas o Estado brasileiro estará representado”, disse seu assessor Celso Amorim ao jornal O Globo. O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina.

O presidente eleito também recebeu uma ligação do uruguaio Luis Lacalle Pou, envolvido em um dos maiores escândalos no país desde a volta da democracia. O presidente uruguaio estava na China e o convidou para visitar seu país após a posse. “Foi muito divertido porque às quatro e meia da manhã (de segunda), por exemplo, falei com o presidente Lacalle Pou”, disse Milei. “Ele estava na Muralha da China”. E completou: “Conversamos, foi uma conversa realmente formidável”.

Com informações do Página 12.

 

Edição: Leandro Melito