Perseguição

Vereadora cassada por bolsonaristas em Santa Catarina reassume cargo após decisão da Justiça

Maria Tereza Capra foi cassada após se posicionar contra bolsonaristas que teriam feito saudação nazista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Na ação enviada à Justiça anteriormente, a defesa de Capra argumentou que a vereadora foi vítima de "perseguição política" - Divulgação/Câmara Municipal de São Miguel do Oeste

A vereadora Maria Tereza Capra (PT) reassumiu o cargo de parlamentar em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, nesta terça-feira (21), depois que a 5ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do estado concedeu uma liminar para o retorno. 

Por 10 votos a um, com uma abstenção, os vereadores da Câmara do município, que fica 730 quilômetros a oeste de Florianópolis, decidiram, em março deste ano, invalidar o mandato da petista por quebra de decoro parlamentar.  

:: Vereadoras de SC ameaçadas após atos antidemocráticos recebem apoio da sociedade civil :: 

Os parlamentares do município, que tem pouco mais de 40 mil habitantes, entenderam que Capra utilizou as suas redes sociais para difamar catarinenses. De acordo com o relatório da comissão de vereadores, Capra foi responsável por "propagar notícias falsas e atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao município o crime de fazer saudação nazista e ser berço de célula neonazista".  

Na verdade, a ex-vereadora se posicionou contra um grupo de bolsonaristas que, em 2 de novembro do ano passado, teria feito uma saudação nazista enquanto bloqueavam uma rodovia para questionar o resultado da eleição que derrotou Jair Bolsonaro (PL). 

:: Crescimento de feminicídios e estupros em 2023 reflete queda de investimentos em governos anteriores, diz pesquisadora ::

Em sua decisão, o desembargador Vilson Fontana votou pelo retorno de Capra ao cargo de vereadora, uma vez que, tendo em vista a imunidade parlamentar, cabe somente ao Judiciário intervir em um processo administrativo do Legislativo. 

"Se o Congresso Nacional aplicasse a mesma regra dos vereadores de São Miguel do Oeste, não teríamos mais deputados. Vale lá, vale aqui. Foi publicado um vídeo e a vereadora se manifestou sobre o vídeo. Ela não criou o fato, apenas se manifestou", disse o desembargador em sua decisão.  

:: Parlamentares relatam violência de gênero nos plenários das Câmaras de Vereadores no RS ::

Fontana também criticou as manifestações de cunho golpista que se levantaram a favor de Bolsonaro. "O mundo não desabou sobre São Miguel do Oeste por causa da vereadora. O mundo desabou sobre a cidade de São Miguel do Oeste porque, terminado o segundo turno das eleições, as pessoas inconformadas foram para a frente dos quartéis e começaram a pedir um golpe militar em alto e bom som", disse. 

Na ação enviada à Justiça anteriormente, a defesa de Capra argumentou que a vereadora foi vítima de "perseguição política". "A reação de Maria Tereza Capra traduziu um impulso perfeitamente compatível diante da representação coreográfica, em sua cidade [...], à maneira como se dirigiam os nazistas alemães nos anos 1930 e 1940, em célebres e aterradoras manifestações de louvor ao seu líder máximo, o chanceler Adolf Hitler", afirma a ação.   

Na publicação em suas redes sociais, Capri havia escrito que “São Miguel do Oeste acabou de ser identificada uma célula neonazista. E aquelas pessoas, vestindo as cores da nossa bandeira verde e amarelo, manifestando em frente ao quartel do Exército nas barbas das autoridades. E ainda fazem trancando uma rodovia federal. Ainda fazem uma saudação nazista".  

Edição: Vivian Virissimo