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Fundadora da CUT, compositora Dona Onete, aos 84 anos, tem outro foco: ‘Amazônia em pé’

Artista lançou primeiro álbum aos 70 anos, o que fez fazer turnês pela Europa antes de se apresentar no Brasil

Ouça o áudio:

"No tambor do índio o negro tocou", relata Dona Onete sobre origem do Carimbó - Divulgação/Facebook

Dona Onete não esperou chegar aos 70 anos para lançar seu primeiro álbum de estúdio, Feitiço Caboclo, à toa. Antes disso, ela tinha outras prioridades e não “iria trocar o certo pelo duvidoso”. 

Professora de história para alunos do ensino fundamental no município de Igarapé-Miri, no interior do Pará, a artista conta que, muitas vezes, foi estimulada a virar cantora. Mas a decisão só veio após a aposentadoria.

Antes de se tornar a rainha do carimbó e viajar o Brasil e o mundo para divulgar os ritmos paraenses, Dona Onete cruzou o país por outra motivação.

Sindicalista, Ionete da Silveira Gama, viajou para São Paulo na década de 1980 para participar das famosas greves do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Foi neste período que foi fundado o maior movimento sindical do país até hoje, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e a Dona Onete estava lá, em nome dos professores e trabalhadores do campo, mas também já como difusora da cultura paraense.

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“Eu fazia parte da Comissão de Frente. Tudo o que era para fazer show, era para cantar. Dona Onete e vários professores paraenses, nós viemos mais ou menos com 6 ou 7 professores de Igarapé-Miri”, relata em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (24).

“Acabava as discussões e eu já subia no palco e trazia o tambor e o carimbó já virava”, comenta a cantora relembrando que os encontros após as plenárias dos sindicalistas aconteciam no Bar da Brahma, na esquina das avenidas São João e Ipiranga, no centro de São Paulo.

“Era o momento nosso de relaxar, que a gente relaxava um pouquinho de tanta tensão, porque você sabe, era no tempo da ditadura, né?”.

Hoje com 84 anos, a cantora tem mais de 300 canções próprias e apresenta um repertório que conta das vivências de sua infância em Cachoeira do Arari, localizado na Ilha do Marajó.

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Os álbuns a fizeram realizar turnês internacionais, antes mesmo de cantar para o Brasil. Feitiço Caboclo, de 2012, levou a cantora para países como Portugal, França e Inglaterra,

Em outubro, a Assembleia Legislativa declarou que a obra musical de Dona Onete agora é patrimônio Cultural e Imaterial do estado.

A cantora não atua mais no sindicato, mas segue com as mesma convicções que a fizeram participar das greves em 1983. No entanto, hoje, se dedica a levantar a bandeira da “Amazônia em pé”.

“Eu continuo na luta, eu brigo eu falo, principalmente agora pela Amazônia em pé. eu só não me envolvo tanto por conta da minha saúde, os médicos me dizem ‘chega Dona Onete, já deu’”.

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“Agora eu tô em outra briga, não sei se tem partido. Mas eu tô na luta por nossas coisas, pela nossa cultura paraense”

“Demorou muito pro Brasil entender as questões da Amazônia. Essa venda de madeira, se não cortar onde comprar, não tem jeito. Não é de hoje, há muitos anos isso acontece. As madeiras de lei foram se acabando. Cedro cheiroso, mogno, maçaranduba…. Pra onde foi? Nós paraense fazemos a casa de alvenaria, e lá nos Estado Unidos, casas de madeira de lei.”

Açaí

Para explicar como aos 83 anos é capaz de seguir cantando e levantando bandeiras, Dona Onete é certeira: “ é a vontade de mostrar o que a gente tem”, se referindo ao seu estado de origem, o Pará.

Mas ela admite que não seria capaz de tanto se não fosse o açaí de cada dia. “Todo dia tem açaí na minha casa, tem que ter pra gente, é uma tradição em Belém. É que me dá um pouco mais de segurança, de vigor”, confidencia. 

Movida a açaí, Dona Onete explica a origem dos ritmos que movem a sua música.

“É o tambor do Norte. O negro tocou no tambor do índio.  Não deu tempo de eles irem buscar o seu tambor, de recorrer  essas coisas [quando capturados na África].”

“Então, quem tinha o tambor fedido, de couro que acabava de matar um veado, uma onça? E pegavam o couro ali mesmo e amarrava com um pau furado, com um pau de carimbó. Eram os índios, que faziam os seus rituais, com a maracá do Pajé. Como eu digo, no tambor do índio, o negro tocou.”


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Edição: Rodrigo Durão Coelho