COP 28

Apesar da pressão de movimentos ambientalistas, Lula confirma Brasil na Opep+, mas diz que país 'não vai apitar nada'

Na COP 28, presidente justificou que adesão é necessária para convencer nações petrolíferas a investir em energia limpa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Evento sobre florestas organizado pelo governo Lula na COP 28 reuniu lideranças indígenas, movimentos populares e ambientalistas - Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, neste sábado, que o Brasil aceitará o convite para aderir à Opep+, grupo de nações associadas à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O anúncio foi feito na COP 28, no painel “Florestas: Protegendo a Natureza para o Clima, Vidas e Subsistência”, que reuniu movimentos populares e ambientalistas brasileiros na cúpula do clima das Nações Unidas em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Em teoria, os países que fazem parte da Opep+ são apenas observadores, sem interação com as decisões da Opep. Na prática, entretanto, as nações aliadas podem participar de políticas internacionais ligadas ao setor. E foi isso que Lula reiterou aos participantes da mesa de debates ao ser questionado sobre uma suposta contradição do governo em defender matrizes energéticas renováveis, em detrimento dos combustíveis fósseis mas, ao mesmo tempo, se aliar aos maiores produtores de petróleo do mundo. 

O tema surgiu a partir de um questionamento do líder ambientalista Márcio Astrini, secretário-geral do Observatório do Clima, a maior coalizão de ONGs do país. 

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"Muita gente ficou assustada: 'nossa! O Brasil vai participar da Opep'. O Brasil não vai participar da Opep, vai participar da Opep Plus [Opep +]. É que nem eu participar do G7. Eu participo do G7 desde que eu ganhei a Presidência da República. Aliás o único presidente que participou em todas reuniões do G7. É o G7+. Eu vou lá, escuto, só falo depois que eles já tomaram a decisão e venho embora. Não apito nada", afirmou. 

Além disso, Lula justificou que a adesão à Opep+ representa uma vantagem para o Brasil, justamente pela maior proximidade com os países da Opep. Para o presidente, num momento em que o mundo discute a chamada 'descarbonização' da economia, a participação brasileira seria importante para convencer as nações petrolíferas a investir em energias renováveis.

"A Opep + eu acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para reduzirem os combustíveis fósseis", disse.

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Ainda de acordo com Lula, “se preparar, significa aproveitar o dinheiro que eles lucram com petróleo e fazer investimento para que o dinheiro, que eles possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde. Porque se a gente não criar alternativa, a gente não vai poder dizer que vai acabar com os combustíveis fósseis (...) Acabar com os combustíveis fósseis é um desejo, chegar lá é uma guerra, uma luta”, acrescentou o presidente.

Ao todo, os 13 países da Opep produzem cerca de 28,7 milhões de barris de petróleo por dia, segundo dados da agência estadunidense Energy Information Administration.

Em sintonia com Lula, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já tinha afirmado, nesta sexta-feira(1) não ver contradição na entrada do Brasil na Opep+, se o objetivo for provocar o debate da renovação energética limpa para o grupo. 


Presidente Lula posa para fotos durante o evento sobre florestas na Expo City Dubai / Ricardo Stuckert

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Ainda durante o evento, Lula lembrou que levar o debate da renovação energética, buscando alternativas mais limpas é algo que o governo brasileiro tem feito também em casa. 

“No PAC colocamos a questão de um pacote de quase 160 bilhões de reais para a gente fortalecer a questão da energia renovável. É por isso que estão aqui [os ministros] Haddad [Fazenda] e  Rui Costa [Casa Civil]. Para a gente conversar com quem tem dinheiro, para investir em energia renovável. Quer ganhar dinheiro? Então vai ajudar a investir em energia renovável, eólicas, solar…”, finalizou o presidente, que garantiu que o governo brasileiro não abrirá mão de levar o debate da questão ambiental em qualquer espaço onde atue.

Decisão "equivocada e perigosa"

Apesar da explicação do presidente Lula e dos membros do governo, ambientalistas ainda criticam a decisão brasileira de aderir à Opep+. Para o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, houve, sim, contradição. 

“O Brasil diz uma coisa, mas fez outra na COP28. É inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1.5 graus, agora esteja anunciando o seu alinhamento ao grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo", condena. 

Ramos concorda que ainda não é possível saber exatamente como será formato da Opep+, mas, segundo ele, a Opep funciona como um cartel para influenciar o preço internacional do petróleo por meio do controle da oferta. Por isso, “anunciar a entrada do Brasil na organização em pleno ano de 2023, enquanto deveríamos estar preocupados em acelerar a transição energética do país e criar planos para eliminar os combustíveis fósseis progressivamente, é uma decisão completamente equivocada e perigosa”, acrescenta. 

Ainda na visão do diretor do Greenpeace Brasil, a decisão pode ser uma maneira errada de começar a construir pontes para a COP30, que acontecerá em Belém (PA), em 2025.

 

Edição: Douglas Matos