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COP28: Papa sugere criação de fundo de combate à fome com recursos utilizados em despesas militares

Pontífice fez sugestão em discurso enviado à COP28, que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Sugestão do papa Francisco foi feita em discurso enviado para a COP28 - Tiziana Fabi/AFP

O papa Francisco sugeriu a criação de um fundo mundial, com o dinheiro utilizado em despesas militares, para acabar com a fome e promover o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres a fim de combater as mudanças climáticas

A sugestão foi feita em carta entregue a delegados que estão na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28. A presença do Papa, de 86 anos, estava confirmada no evento, mas foi cancelada devido a uma inflamação pulmonar. 

“Quantas energias está desperdiçando a humanidade nas várias guerras em curso, como sucede em Israel e na Palestina, na Ucrânia e em muitas regiões da terra: conflitos que, em vez de resolver os problemas, aumentá-los-ão! Quantos recursos desperdiçados nos armamentos, que destroem vidas e arruínam a Casa Comum!”, afirmou o Papa em discurso enviado por escrito. 

“Relanço uma proposta: com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo Mundial, para acabar de vez com a fome e realizar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres, combatendo as mudanças climáticas.” 

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Em seu papado, o pontífice tem feito uma defesa irrestrita do combate às mudanças climáticas. Em 2015, antes da cúpula em que foi assinado o Acordo de Paris, e em 2022, antes da COP27, o Papa Francisco escreveu dois documentos chamando a atenção do mundo para o assunto.  

"Gostaria de recordar a cúpula da COP27 sobre o clima, que está ocorrendo no Egito. Espero que sejam dados passos adiante, com coragem, determinação, no caminho traçado pelo Acordo de Paris", declarou o pontífice na oração do Angelus, no Vaticano, no ano passado. 

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No discurso deste sábado, Francisco afirmou que está “comprovado que as alterações climáticas em curso derivam do sobreaquecimento da terra, causado principalmente pelo aumento na atmosfera dos gases com efeito de estufa, causado por sua vez pela atividade humana, que, nas últimas décadas, se tornou insustentável para o ecossistema”.  

O papa disse ainda que a ambição do modelo de produção capitalista se transformou em uma “ganância sem limites”, explorando o meio ambiente de maneira “desenfreada”. “O clima enlouquecido soa como um alerta para acabarmos com tal delírio de onipotência. Com humildade e coragem, voltemos a reconhecer a nossa limitação como única estrada para uma vida plena”, disse. 

A COP28 começou em 30 de novembro e segue até 12 de dezembro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na abertura dos trabalhos, na última sexta-feira (1º). Na ocasião, lamentou que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015) não sejam implementados à risca por todos os países. 

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“Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso. As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015”, disse. 

“Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante. O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. É preciso resgatar a crença no multilateralismo” 

Edição: Vivian Virissimo