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'Fraca', 'frustrante', 'obscura', 'quebra as expectativas': entidades reagem a novo rascunho de texto da COP28

Projeto de documento publicado nesta segunda-feira (11) não menciona previsão para eliminar uso de combustíveis fósseis

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Ativista protesta durante atividade da COP28, em Dubai - AFPTV / AFP

Entidades internacionais do clima demonstraram insatisfação e decepção com o mais recente rascunho para o documento oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima de 2023 (COP28). O esboço, divulgado nesta segunda (11), penúltimo dia do evento realizado em Dubai (Emirados Árabes), não menciona a previsão de eliminação do uso de combustíveis fósseis, e sim sua "substituição".

Os rascunhos de texto servem de base para o documento final da COP, que precisa do apoio de todas as nações participantes do evento para ser aprovado. A mudança no texto relativa aos combustíveis fósseis atende a pressões de grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia.

Para algumas organizações que pressionam por mudanças efetivas nas políticas internacionais com interferência direta no clima, a mudança no texto diminui o impacto do documento, embora esteja expresa a "necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases do efeito estufa".

"A proposta de acordo para o Balanço Global divulgada nesta reta final da COP28 é surpreendentemente fraca", disse a especialista em política internacional Camila Jardim, do Greenpeace Brasil. Para ela, "além de ignorar as demandas da sociedade civil ao não promover um acordo global pelo fim progressivo dos combustíveis fósseis, o texto também é especialmente frustrante aos países em desenvolvimento por não oferecer os meios de implementação, como previsão de financiamento, para que estes tenham condições de promover sua transição energética".

Para a pesquisadora do Greenpeace, o documento tem "armadilhas claras" ao falar de maneira vaga sobre aumento no uso de energias renováveis. Além disso, quando propõe mudanças sem garantir a eliminação do uso dos combustíveis fósseis, ignora o que ela chama de "os grandes vilões da crise climática".

"É inaceitável que as propostas de falsas soluções, como a Captura e Armazenamento de Carbono [CCS, na sigla em inglês], tenham ocupado lugar central no texto, o que abrirá margem para que os poluidores continuem com as práticas danosas sob a promessa de que os seus efeitos negativos possam ser reparados", complementou.

Por sua vez, a organização internacional 350.org, que atua pelo fim do uso dos combustíveis fósseis, classificou o texto como "vago", "evasivo" e "extremamente decepcionante" e avalia que a proposta para o documento está distante da resposta urgente que a crise climática existe.

"Tal como o horizonte de Dubai, assolado pela poluição atmosférica, a menção aos combustíveis fósseis no texto é, na melhor das hipóteses, obscura; na pior, perigosa. Este resultado deixa as portas abertas para distrações perigosas e tecnologias falsas como a CCS, que certamente nos levarão além do limite planetário de aumento de 1,5°C na temperatura", disse a organização, em nota.

O Instituto Talanoa avalia que o texto "quebra as expectativas da sociedade". A presidente da organização, Natalie Unterstell, destacou a falta de um cronograma claro e ambicioso para a transição energética – que, na verdade, sequer é mencionada. Apesar disso, ela reconhece alguns avanços.

"Por outro lado, a parte referente ao sistema financeiro inclui o reconhecimento dos riscos climáticos, o que é um avanço positivo para que este setor cumpra seu estratégico papel na transição para uma economia de baixo carbono. Outro ponto positivo é a ênfase em natureza e ecosistemas, com data firme para o fim do desmatamento em 2030", ponderou.

* Com informações da Agência Brasil.

Edição: Thalita Pires