MAL FORMULADA

Tarifa Zero aos domingos em São Paulo não melhora transporte e favorece empresários, diz analista

Preocupação é que experiência paulista seja negativa e desestimule a adesão ao passe livre em outras cidades

Brasil de Fato | Recife(PE) |
Analistas criticam a decisão de remunerar as empresas pelo número de passageiro transportado - Giorgia Prates

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes(MDB), anunciou a implementação da tarifa zero nos ônibus aos domingos. A medida passa a valer a partir do dia 17 de dezembro e deve beneficiar cerca de dois milhões de usuários na capital paulista, segundo projeções da prefeitura.

Chamado de "Domingão Tarifa Zero", o projeto tem sido apontado como uma aposta eleitoral de Nunes, que tentará a reeleição ao cargo em 2024. 

Historicamente defendida pela esquerda e por movimentos progressistas, a tarifa zero passou a ser uma pauta de políticos de direita e até acolhida por empresários do setor de transporte, que anteriormente discursavam sobre a inviabilidade econômica da iniciativa.

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Isso acende um alerta sobre a forma e os métodos usados pela gestão Nunes, em São Paulo, para implementar a gratuidade no transporte público. 

Rafael Calabria, coordenador do programa de mobilidade urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), observa que o modelo do passe livre aos domingos adotado em São Paulo tem equívocos, não tem perspectiva de melhorar o transporte e, ao final, beneficia apenas os empresários. 

Ele participou ao vivo do programa Central do Brasil desta sexta-feira(15), para falar sobre a metodologia e formato usados pelo governo Ricardo Nunes, em São Paulo, para adotar a tarifa zero aos domingos. 

Um dos obstáculos mais nítidos é o modelo remuneração escolhido pela prefeitura: pagar aos empresários do transporte pelo número de passageiros transportados, e não por quilômetro rodado durante as viagens. 

"O setor faz a conta parecer difícil, mas, na verdade, é muito fácil. Você, ao pagar ao empresário por passageiro transportado, a conta para ele é óbvia: quanto mais passageiro e mais lotado, mais rentável", analisa Rafael, sobre o critério adotado pela prefeitura para efetuar o pagamento do subsídio. 

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"É uma conta que não leva a qualidade e a frequência que a pessoa espera ter ali no ponto de ônibus. Com a tarifa zero, tende a aumentar muito o número de passageiro e, dessa forma, tende a deslanchar a remuneração do empresariado sem que isso represente na prática uma melhoria do transporte na rua", argumentou. 

Nos últimos anos, tem aumentado o número de cidades que aderiram ao modelo de tarifa zero integral - aquela que vale para para todo o sistema e aplicada diariamente. Só em 2023, segundo o jornal Folha de S. Paulo, 23 cidades implementaram o passe livre. 

São Paulo, a partir deste domingo, passa a ser cidade com grande população a experimentar a tarifa zero, ainda que em apenas um dia da semana.

Isso, de acordo com Rafael, representa um grande risco ao projeto de tarifa zero e, caso a experiência paulista não funcione, pode desestimular a adesão municípios parecidos em outros estados. 

"Existe um risco, até porque  a gestão Nunes está mostrando uma visão ruim: a de que não vai aumentar o número de passageiro e que eles esperam não ter que aumentar a frota. A visão deles é equivocada e faz parecer que não vão saber encarar o problema e dar qualidade à população de São Paulo. 

A entrevista completa está na edição desta sexta-feira(15) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube 



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Edição: Rebeca Cavalcante