Balanço do ano

Com Lula, Petrobras mudou rota em 2023, mas precisa aprofundar mudanças em 2024

Estatal reduziu preço dos combustíveis e anunciou plano estratégico com R$ 102 bi em investimentos

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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A petrolífera criou este ano a "Diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis". - Foto: Petrobras/Divulgação

A Petrobras inicia 2024 com desafios no horizonte após passar uma série de mudanças em 2023. Com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a estatal ganhou novos diretores e conselheiros. Com eles, reduziu o preço dos combustíveis e anunciou a ampliação de seus investimentos, que haviam sido reduzidos durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Para pesquisadores e petroleiros ouvidos pelo Brasil de Fato, as mudanças foram positivas e reforçaram o papel estratégico da estatal para a economia nacional. Para eles, no entanto, o movimento iniciado neste ano precisa ser aprofundado em 2024 pelo bem da empresa e da população nacional, que é a acionista majoritária da companhia por meio da União.

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Em maio, a Petrobras mudou sua política de preços. O chamado Preço de Paridade de Importação (PPI) deixou de ser referência para a estatal. A empresa resolveu voltar a competir contra agentes privados por vendas, medida que refletiu nos postos país afora.

Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o preço médio do diesel, por exemplo, caiu mais de 7% no país de novembro de 2022 a novembro de 2023 por conta das novas práticas da Petrobras. O fato contribuiu com o controle da inflação geral, que em 2023 deve fechar dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pela primeira vez desde 2020.

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O economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo (OSP), afirmou que o abandono do PPI pela Petrobras foi algo inegavelmente positivo. Ele, contudo, ponderou que a Petrobras chegou a vender combustíveis a preços mais altos do que no exterior no final deste ano. Para Dantas, isso precisa mudar em 2024.

"O início da política de preços da Petrobras foi muito boa, garantiu preços realmente menores do que o de importados ou da concorrência privada. Mas a partir de novembro isto mudou completamente. A Petrobras chegou a cobrar pela gasolina um preço mais alto do que a Acelen e a 3R [refinarias privadas]", disse ele. "Isso contraria a sua própria política de preços, que prometia valores melhores do que a concorrência", disse.

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Mahatma dos Santos, um dos diretores do Ineep, confirmou que, em novembro, a Petrobras praticou preços acima do PPI tanto para gasolina quanto para o diesel.

Na terça-feira (26), a Petrobras anunciou uma redução de 7,9% no diesel. A gasolina, no entanto, não caiu entre outubro e dezembro.

Dividendos

A Petrobras também mudou sua política de remuneração de acionistas em 2023. A empresa, que chegou a ser a que mais distribuiu lucros em forma de dividendos durante 2022, decidiu reter parte de seus ganhos em caixa para financiar investimentos.

A mudança também foi aprovada por especialistas, afinal a falta de investimentos poderia comprometer o futuro da companhia no longo prazo. Eles ressaltaram, contudo, que a alteração é suave e deveria ser reforçada em prol da empresa.

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Em 2022, a Petrobras pagou em dividendos cerca de 104% do seu lucro líquido – ou seja, distribuiu a seus acionistas mais recursos do que efetivamente gerou no ano. Em 2023, esse percentual deve baixar para 80%. Para Dantas, do OSP, isso ainda é excessivo e deveria ser reduzido.

"O equilíbrio entre dividendos e investimentos melhorou, mas aconteceu ainda", ratificou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP). "Estamos num processo e o discurso oficial é que não é possível mudar tudo num único ano", acrescentou.

"Dado o desmonte e desnacionalização observados na Petrobras nos anos recentes, é preciso que a Petrobras avance a passos largos tanto na ampliação de sua capacidade de investimentos quanto na necessária promoção de uma transição energética e justa", disse dos Santos.

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Investimentos

Em se tratando de investimentos, a Petrobras anunciou um plano estratégico para os anos de 2024 a 2028 que prevê aporte de 102 bilhões de dólares (cerca de R$ 500 bilhões). O valor é 31% maior do que o previsto no plano estratégico anterior, de 2023 a 2027.

O plano inclui investimentos em projeto de transição energética, principalmente em geração de energia elétrica por meio do vento. Com isso, a Petrobras sinaliza que pretende deixar de ser uma petroleira para se tornar uma companhia de energia num sentido mais amplo, mudança que é vista como imperativa dentro do contexto de aquecimento global.

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Bacelar, da FUP, disse que o plano atende parte da demanda de petroleiros sobre a Petrobras. Ele prevê a retomada de obras em refinarias, algo que precisa ser feito para aumentar a produção de combustíveis da Petrobras e reduzir a dependência do país da importação de derivados de petróleo.

Dos Santos, do Ineep, ponderou que os investimentos anunciados são insuficientes. "A Petrobras segue imersa em uma disputa entre, por um lado, um plano de negócios míope e curto prazista, defendido por seus acionistas minoritários e, por outro lado, a necessidade de avançar na construção de um plano estratégico de longo prazo, preocupado com o futuro operacional e financeiro da companhia e que a reaproxime de um projeto de desenvolvimento nacional soberano", destacou.

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O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou em mensagem de fim de ano a funcionários que a Petrobras voltou a olhar para o futuro e para o desenvolvimento do país em 2023. "Fizemos muito", afirmou. "Em 2024, vamos fazer ainda mais."

"Temos desafios pela frente e vamos realizar todos os nossos projetos", acrescentou. "Temos novas fronteiras de exploração e uma transição energética para construir", finalizou.

Edição: Rebeca Cavalcante