PALESTINA SOB ATAQUE

Acordo permite entrada de suprimentos para população palestina em Gaza

Mediado pelo Catar, pacto também prevê remédios para reféns do Hamas; EUA tentam costurar nova pausa humanitária

Brasil de Fato | São Paulo |

Ouça o áudio:

Fotografia tirada em Rafah, na fronteira com o Egito, mostra fumaça durante bombardeio israelense em Khan Yunis, que matou mais pessoas: massacre de Israel já fez mais de 24 mil vítimas fatais - AFP

Uma nova leva de ajuda humanitária vai entrar na Faixa de Gaza por meio de um acordo mediado pelo Catar e pela França. Com isso, Israel permitirá a entrada de mais suprimentos básicos para a população palestina, que sobrevive em situação crítica após mais de três meses de bombardeios que já mataram mais de 24 mil pessoas.

Os insumos serão destinados às "áreas mais afetadas e vulneráveis", afirmou o Ministério das Relações Exteriores do Catar. Em troca, medicamentos também devem ser fornecidos aos reféns mantidos pelo Hamas, capturados no ataque surpresa de 7 de outubro em território israelense.

Na esteira desse novo acordo, o primeiro desde que as pausas humanitárias foram suspensas no início de dezembro, os Estados Unidos afirmam ter esperança de que novas conversas possam levar à libertação de mais reféns.

:: Israel proíbe que médicos falem com investigadores da ONU ::

O enviado do país para o Oriente Médio esteve no Catar para discutir a possibilidade desse acordo e teve conversas "muito sérias e intensas", segundo John Kirby, porta-voz da Casa Branca. "Estamos esperançosos de que dará frutos em breve", afirmou.

O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que dois aviões da Força Aérea do Catar pousariam nesta quarta-feira (17) no Egito com medicamentos comprados na França com base em uma lista israelense.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha vai coordenar a entrega dos remédios para o Hamas. Segundo Stefanie Dekker, correspondente da Al Jazeera, o "Hamas expressou preocupações de que talvez a carga possa ser rastreada, para que Israel descubra onde eles [os cativos] estão". As famílias dos cativos, diz ela, exigem provas de que os medicamentos chegarão ao seu destino.

O Ministério das Relações Exteriores da França, que organiza os esforços de ajuda, disse que as negociações ocorreram durante semanas e a ideia partiu das famílias de alguns reféns israelenses. Vários homens idosos estão entre os mais de 130 reféns que, acredita-se, ainda sejam mantidos pelo Hamas. Três deles são franceses.

:: Grupo pró-Palestina do Iêmen amplia ataques a navios de países aliados de Israel ::

A maioria das mulheres e crianças foi libertada durante a trégua de uma semana que terminou em 1º de dezembro, na qual Israel também libertou centenas de prisioneiros palestinos — ainda que durante o massacre em curso, tenha feito uma quantidade ainda maior de novos prisioneiros.

Massacre prossegue

Apesar do acordo, Israel intensificou seus ataques aéreos no sul de Gaza na quarta-feira. "Foi a noite mais difícil e intensa em Khan Yunis desde o início da guerra", disse o governo do Hamas, cujo Ministério da Saúde relatou 81 mortes em todo o território palestino nas últimas 24 horas — já são mais de 24 mil mortes desde o início do massacre, além de mais de 60 mil feridos.

A ajuda para Gaza é desesperadamente necessária, com a maioria dos 2,3 milhões de habitantes deslocados e enfrentando condições "semelhantes à fome", relatou um repórter da Al Jazeera em Rafah, na fronteira com o Egito.

"As pessoas em Gaza estão sofrendo com a falta de alimentos, água, medicamentos e cuidados de saúde adequados. A fome tornará a situação catastrófica, porque pessoas doentes têm mais probabilidade de sucumbir à fome e pessoas famintas são mais vulneráveis a doenças", disse há dois dias o diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Ghebreyesus.

No dia seguinte, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (OCHA, na sigla em inglês) denunciou que apenas uma em cada quatro missões humanitárias enviadas ao norte de Gaza desde o início do ano chegaram ao destino.

Com informações da Al Jazeera e da Reuters.

Edição: Lucas Estanislau