Aniversário

Aos 470 anos, SP vai discutir seu futuro em ano eleitoral com reedição de polarização entre Lula e Bolsonaro

Pesquisas indicam favoritismo de Boulos e mostram que segurança pública deve ser o tema mais recorrente nas eleições

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Theatro Municipal, um dos ícones da capital paulista - Governo de São Paulo/Divulgação

Completando 470 anos nesta quinta-feira (25), São Paulo será rediscutida em 2024 em mais um processo eleitoral, que apresentará aos paulistanos o seu 59º prefeito. Uma radiografia das candidaturas indica mais um enfrentamento entre o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

Algumas candidaturas são conhecidas desde 2023. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB) não esconde sua ansiedade com o pleito e luta para ser um rosto reconhecido pela população. Nos bastidores, tem trabalhado para atrair Bolsonaro para seu palanque, embora, durante sua gestão, nunca tenha escancarado uma aliança com o ex-presidente.

Se Nunes mantém uma relação morna com seu padrinho político, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) não esconde Lula em suas redes sociais e nem no discurso. O petista será o principal cabo eleitoral do parlamentar, que disputará a Prefeitura de São Paulo pela segunda vez. Na primeira, em 2020, perdeu no segundo turno para Bruno Covas (PSDB), que morreu em 16 de maio de 2021, cinco meses após assumir o cargo.

Boulos é o favorito na corrida eleitoral paulistana até aqui e lidera todas as pesquisas de intenção de voto, com o atual prefeito em segundo. No último levantamento, divulgado em 13 de dezembro de 2023, pelo Instituto Paraná, o psolista aparece à frente, com 32% da preferência do eleitorado, seguido por Nunes, que tem 25%.

A possibilidade de segundo turno entre os dois pré-candidatos, apoiados pelos dois últimos presidentes do país, pode fazer a capital paulista reviver o clima de polarização de 2022, quando Lula derrotou Bolsonaro nas urnas e foi eleito presidente da República. A possibilidade foi admitida pelo petista.

"Na capital de São Paulo é uma coisa muito especial. É uma confrontação direta entre o ex-presidente e o atual presidente. Entre eu e a figura (em referência a Bolsonaro). E a gente vai disputar as eleições. Fiquei muito feliz de convencer a companheira Marta Suplicy", disse Lula, em entrevista à Rádio Bahia, na última terça-feira (23).

Para Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a eleição "realmente tende para uma bipolarização entre Boulos e o atual prefeito, porque quem tem o cargo e disputa a reeleição vai sempre com força. O Boulos acaba ocupando na cidade o espaço ocupado pelo PT, mas que já na anterior foi ocupada pelo candidato PSOL. Isso tem mais a ver com a liderança do Boulos do que o desempenho do PSOL".

A chegada de Marta Suplicy para ocupar o posto de vice na chapa encabeçada por Boulos foi um duro golpe para Ricardo Nunes. A ex-prefeita chefiava a Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura e pulou o muro, depois que recebeu o convite de Lula para se filiar ao PT novamente e participar da corrida eleitoral.

Rosemary Segurado, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), compara a eleição deste ano com as edições anteriores. "É diferente de 2020 e 2016, principalmente porque 2016 é o ano do golpe na presidenta Dilma Rousseff. Naquele ano, o campo progressista perdeu muito nas urnas. Em 2020, com um candidato muito fraco do PT (Jilmar Tatto), alguma militância do PT ainda fez campanha para o Guilherme Boulos."

Outros dois nomes já estão confirmados para a eleição. Um deles é a deputada federal Tábata Amaral (PSB), que tem aparecido em terceiro nas pesquisas e que poderá ter o jornalista José Luis Datena como vice em sua chapa. O apresentador se filiou ao PSB em evento concorrido na capital paulista, com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e do ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França.

"A candidatura da Tabata pode crescer ocupando um espaço mais ao centro. Tenho dúvidas se ela pode crescer para ameaçar a posição do Nunes em um eventual segundo turno, mas é um nome que deve aparecer na terceira posição. Ela tem aparecido muito no debate público em diversas pautas, então tem méritos e é justo que tenha um acréscimo”, explica Couto.

O Novo anunciou, no dia 30 de outubro, que a economista e ex-diretora de Desestatização do Ministério da Economia do governo Bolsonaro, Marina Helena Santos, será a candidata do partido à Prefeitura de São Paulo.

Em 2022, Helena foi candidata a deputada federal e não foi eleita. Com 50 mil votos terminou o pleito como 1ª suplente do Novo na Câmara dos Deputados. No último sábado (25), a pré-candidata novista decidiu demarcar sua posição ideológica e divulgou uma fotografia em suas redes sociais na qual coloca o discurso do presidente da Argentina, Javier Milei, para seu bebê "escutar". A economista está grávida de um menino.

Como possibilidade, mas sem confirmação, aparecem outros nomes na corrida paulistana pela cadeira de prefeito. No União Brasil, o deputado federal Kim Kataguiri aguarda uma decisão do partido. Capitaneado na capital paulista pelo vereador Milton Leite, a legenda tende a apoiar Nunes na corrida pela reeleição.

Leite tem dito nos bastidores que o União Brasil deve manter a ilusão de Kim Kataguiri até o limite, mas que priorizará apoiar Nunes, principalmente se conseguir cargos na Prefeitura e a posição de vice na chapa do atual prefeito.

Dilemas

Entre os desafios dos pré-candidatos está superar o pessimismo do paulistano com o município. Pesquisa divulgada na última terça-feira, pelo Ipec e a Rede Nossa São Paulo, mostra que a cada dez moradores de São Paulo, seis mudariam de cidade.

Ainda de acordo com o levantamento, apenas 30% dos munícipes consideram que a vida em São Paulo melhorou "um pouco" ou "muito" no último ano, durante a gestão de Ricardo Nunes. Para outros 47% o cotidiano não melhorou nada e 22% disseram que está pior viver na capital paulista.

Outra pesquisa, essa divulgada pelo Datafolha em novembro do ano passado, mostra que a violência (22%) é a maior preocupação dos paulistanos. Em seguida, aparecem o atendimento de saúde (16%), o transporte coletivo (8%), as escolas e creches (6%), os buracos nas calçadas e no asfalto (5%), habitação (4%) e quantidade de pessoas em situação de rua (4%).

Para Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a gestão de Ricardo Nunes já tem forçado o debate sobre segurança pública com a insistência pela Cracolândia.

"A Cracolândia é um tema central na eleição e o que orbita entorno dela, porque hoje você tem cracolândias espalhadas por São Paulo. No Ceagesp, por exemplo, temos uma. Acho pouco provável que apareça como uma situação de saúde ou como uma preocupação para resgate de pessoas, mas essa discussão virá pautada pela segurança pública", analisa Couto.

"A questão do transporte deve ser tema, e aí o Nunes tentou se adiantar trazendo uma pauta da esquerda, que é o passe livre. E eu acho que o tema de segurança estará presente também, a violência urbana", pondera a cientista política Rosemary Segurado.

Edição: Nicolau Soares