CRISE HUMANITÁRIA

Associação Yanomami declara apoio à paralisação no Ibama e cobra governo Lula

Mesmo prejudicando fiscalização na terra indígena, organização vê necessidade de fortalecimento da carreira ambiental

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
"É necessária a atuação do governo atual, demonstrando apoio e fortalecendo a categoria dos profissionais que atuam na preservação das florestas", declarou organização liderada por Junior Hekurari (foto) - Felipe Medeiros/Amazônia Real

A Urihi Associação Yanomami, que representa a população da Terra Indígena Yanomami (TIY), declarou apoio à paralisação dos servidores do Ibama e do ICMBio, que iniciaram a mobilização em 1º de janeiro. 

Desde então, ficaram prejudicadas ações de combate ao garimpo no território indígena, onde a mineração provocou uma crise humanitária, com mais de 500 crianças mortas por doenças evitáveis.  

Junior Hekurari, líder da Urihi que participa ativamente no socorro a indígenas adoecidos pelo garimpo, divulgou nota favorável à paralisação.

"A recomposição da força de trabalho deve ser prioridade neste governo, visando recuperar a capacidade de atuação dos servidores com condições de trabalho benéficas, bem como autonomia técnica", disse a Urihi. 

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Mesmo prejudicando a curto prazo a proteção à Terra Indígena, a Associação Yanomami entende que a paralisação poderá ser benéfica, fortalecendo a categoria e encerrando "um ciclo de abandono" da carreira ambiental, perseguida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). 

"Dessa forma, entendemos que é necessária a atuação do governo atual, demonstrando apoio e fortalecendo a categoria dos profissionais que atuam na preservação das florestas e dos povos indígenas, encerrando assim um ciclo de abandono e perseguição ocorrido ao longo do governo passado", disse a organização liderada por Júnior Yanomami. 

Servidores do Ibama e do ICMBio não aceitaram a proposta do governo para reestruturação de carreiras e decidiram manter a paralisação. A proposição do governo foi feita em 1º de fevereiro. 

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Como resultado da paralisação, o Ibama emitiu apenas 19 licenças no último mês, uma queda drástica em relação às 54 do mesmo período do ano anterior. Além disso, houve uma redução de 92,6% nos autos de infração nos primeiros 15 dias de 2024.

"Nós estamos em campo, temos a realidade nas mãos e estamos informando isso para o andar de cima. E o andar de cima tem que ouvir e considerar o que está sendo dito", disse ao Brasil de Fato Wallace Lopes, agente do Ibama que atua na linha de frente contra o crime ambiental.

Edição: Rodrigo Gomes