Crise

Fugindo da inflação, argentinos cruzam fronteira com a Bolívia para obter produtos básicos

Cidade no extremo norte do país teve diminuição de 50% do comércio, após população buscar suprimentos do lado boliviano

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Preços dispararam na Argentina após a chegada de Javier Milei à Presidência - Luis ROBAYO / AFP

A crise econômica na Argentina, caracterizada principalmente por uma inflação que já era alta no último ano do mandato de Alberto Fernández (2019-2023), mas que se agravou muito mais após o início do governo de Javier Milei, em dezembro passado, tem gerado situações peculiares, como a que acontece na cidade de Salvador Mazza, no extremo norte do país.

A localidade, que possui cerca de 100 mil habitantes, fica na província de Salta e está próxima à fronteira com a Bolívia e às cidades de Pocitos e Yacuiba, já no país vizinho.

Segundo reportagem de Claudia Ferreyra para o jornal Página/12, publicada nesta quinta-feira (15/02) desde a disparada da inflação com Milei a região passou a observar um fenômeno, já que tem crescido o número de argentinos que cruzam diariamente a fronteira entre os dois países, em viagens de poucas horas, apenas para comprar itens de primeira necessidade e fugir da inflação observada em seu próprio território.

Além de apresentar diferentes histórias de moradores da região que buscam produtos com melhores preços, a reportagem também mostra a preocupação dos representantes da Câmara de Comércio da cidade argentina.

Manuel Pieve, líder da associação que reúne cerca de 1,5 mil donos de estabelecimentos de Salvador Mazza, reclama que entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, a cidade registrou uma queda de 50% no comércio.

A matéria afirma que entre os produtos mais buscados em território boliviano estão arroz, açúcar, óleos, medicamentos e outros itens de necessidade básica. Ainda assim, a matéria indica que alguns comerciantes continuam defendendo o governo de Milei, e consideram que a situação atual é fruto de um fenômeno cíclico.

“Tudo é muito complicado, por isso pedimos principalmente aos pequenos e médios (comerciantes), um pouco de paciência, porque não temos outra saída, a não ser esperar que as tendências voltem ao normal”, comentou Pieve.

A reportagem também aborda o fato de que até o século passado a região vivia o mesmo fenômeno ao contrário: bolivianos cruzavam a fronteira para comprar, na cidade de Salvador Mezza, produtos mais que em seu país eram escassos ou sofriam com frequentes aumentos de preço.