Investigação

CPI da Braskem vota plano de trabalho do senador Rogério Carvalho nesta terça (27)

Comissão investigará petroquímica responsável pela afundamento de bairros inteiros em Maceió, capital do Alagoas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Rogério Carvalho (PT-SE), relator da CPI; Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão; e senador Jorge Kajuru (PSB-GO), vice-presidente do colegiado - Marcos Oliveira/Agência Senado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem vota o plano de trabalho do relator Rogério Carvalho (PT-SE), que seguirá até o seu término em 22 de maio. Os senadores vão investigar a responsabilidade da empresa no afundamento de bairros inteiros de Maceió, em Alagoas, devido à exploração de sal-gema. 

Em dezembro do ano passado, a área da mina número 18 da petroquímica, no bairro do Mutange, chegou a correr o risco de desabar. A mina é uma das 35 cavidades abertas pela Braskem para a exploração e extração de sal-gema, um cloreto de sódio que pode ser usado em cozinha e para produção de plástico do tipo PVC e soda cáustica. A mina está às margens da lagoa Mundaú e a cerca de cinco quilômetros do centro do município.

Segundo o próprio governo de Alagoas, somente em novembro cinco abalos sísmicos foram registrados na região. O colapso da área da mina número 18 pode levar à formação de grandes crateras e levar a um efeito cascata em outras regiões. 

Uma pesquisa publicada na revista científica Geophysical Journal International mostrou que "a exploração do sal-gema pela Braskem estava provocando aumento do nível do lençol freático na região. Esse aumento de pressão poderia causar o afundamento do solo", de acordo com citação feita em outro estudo divulgado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). 

"Em 2011, outro estudo, publicado na revista científica Engineering Geology, chegou à mesma conclusão. Os pesquisadores estimaram que o afundamento poderia atingir até 1,5 metro em algumas áreas da cidade", diz o texto da UFAL. 

A exploração subterrânea de sal-gema está em curso em Maceió há quatro décadas. Cerca de 60 mil pessoas foram deslocadas dos bairros impactados devido a essa atividade.

Divergências entre senadores 

Apesar de ser o autor do pedido de instalação do colegiado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) desistiu de participar da CPI da Braskem depois que o seu nome foi preterido para ocupar a relatoria da comissão.

"Com encaminhamentos que ensaiam domesticar a CPI, não emprestarei o meu nome para simulacros investigatórios. Jogos de cartas marcadas sempre acabam com a ruína do castelo de cartas. Já vi esse filme várias vezes. Mãos ocultas, mas visíveis, me vetaram na relatoria, que não era uma capitania, mas o resultado de uma costura política", afirmou durante a sessão do dia 21 de fevereiro, em que o presidente da Comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM), designou Rogério Carvalho como relator. 

A candidatura de Renan Calheiros para a relatoria fazia parte de uma disputa com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e seus aliados. Com reduto eleitoral em Alagoas, ambos são adversários entre si e comumente se envolvem em confrontos no cenário político nacional. 

"A designação do senador Omar Aziz pelo senador Rogério Carvalho é regimental. Eu confesso que, se houvesse um crime ambiental dessa magnitude em Sergipe, eu certamente defenderia que talvez Vossa Excelência tivesse mais legitimidade para conduzir a investigação do que o senador Renan Calheiros", disse o emedebista ao se dirigir ao senador do PT, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa. 

Rogério Carvalho, por sua vez, debateu a acusação que será "domesticado" durante as investigações, em entrevista à Folha de S. Paulo. "Eu me vejo cuidando de um plano de trabalho e buscando esclarecer para a sociedade o que aconteceu. Como não somos domesticados, nós vamos fazer de tudo para que tudo o que tenha acontecido seja exposto", disse o senador petista. 

"Quem vai definir se deve ou não processar quem quer que seja é o Ministério Público e o Judiciário. Para nós está muito claro qual é o nosso papel. A gente não tem nenhum desejo de prejudicar ou atingir quem quer que seja. A gente quer explicar para a sociedade e apontar responsabilidades e problemas que talvez sejam sistêmicos." 

Edição: Matheus Alves de Almeida