Tempus Veritatis

Ex-assessor de Bolsonaro pede ao STF para prestar depoimento para 'contribuir' com investigação sobre golpe

Coronel da reserva, Marcelo Câmara é suspeito de atuar em estrutura paralela de inteligência para Bolsonaro

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Defesa argumenta que Câmara ficou calado pois advogado acompanhava depoimento de Tércio Arnaud no mesmo dia e horário - Nelson Jr./STF

A defesa do ex-assessor especial de Jair Bolsonaro Marcelo Câmara pediu nesta segunda-feira (4) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que marque uma nova data para ele ser ouvido pela Polícia Federal (PF). Ele é investigado por participar da suposta tentativa de golpe arquitetada durante o governo Bolsonaro para que o então presidente se mantivesse no poder.

O advogado Eduardo Kuntz, que defende Câmara, afirmou que seu cliente foi depor sem sua presença e que por isso acabou ficando em silêncio. De acordo com a defesa, isso aconteceu porque Kuntz também é responsável pela defesa de Tércio Arnaud Tomaz, outro ex-assessor de Bolsonaro, que prestou depoimento no mesmo dia e horário.

Diante disso, na manifestação encaminhada nesta segunda ao STF, ele pediu que seja marcada com urgência uma nova data para o depoimento, ou mesmo que ele vá até o Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, onde Câmara está detido, para registrar os esclarecimentos de seu cliente.

Câmara é coronel da reserva do Exército, com formação nas chamadas Forças Especiais, grupo militar de elite, e foi assessor especial da Presidência no governo de Jair Bolsonaro. Segundo a PF, ele seria um dos responsáveis por um núcleo de inteligência não-oficial de Bolsonaro. Próximo do ex-presidente, ele foi nomeado como um dos auxiliares a que Bolsonaro tem direito após deixar o cargo e chegou a viajar com ele para os EUA após o segundo turno, em 2022. 

Na investigação da PF, ele aparece em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, falando de forma cifrada sobre os itinerários de viagem do ministro Alexandre de Moraes no fim de 2022, episódio que foi considerado para determinar a prisão de Câmara. "Considerando que a minuta do decreto que declarava o Golpe de Estado previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, o acompanhamento e monitoramento da autoridade – inclusive durante o Natal (24/12/2022) – demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário Eleitoral", diz a PF na representação que pediu a prisão de Câmara.

"Outro fator relevante é que Marcelo Câmara já tinha pelo menos desde o dia 15.12.2022 o itinerário exato de deslocamento pelos próximos 15 dias do ministro Alexandre de Moraes, o que demonstra o acesso privilegiado de informações pelo grupo. As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle", seguiu a PF no pedido.

Tércio Arnaud Tomaz, outro ex-assessor de Bolsonaro na Presidência defendido por Kuntz, é um dos integrantes do chamado "gabinete do ódio" que teria se instalado na Presidência da República durante o governo de Bolsonaro para atacar adversários do presidente e supostamente difundir fake news. 

Edição: Thalita Pires