Massacre

Negociações por trégua em Gaza avançam, mesmo sem Israel; vice dos EUA: 'Imensa escala de sofrimento'

Kamala Harris pediu abertamente uma pausa no massacre; meta é cessar-fogo antes do mês sagrada dos muçulmanos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Foto tirada de Rafah mostra fumaça subindo sobre Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, durante o bombardeio israelense em 4 de março de 2024 - SAID KHATIB / AFP

As negociações por um cessar-fogo na Faixa de Gaza tiveram “avanços significativos”, apesar da ausência da delegação israelense, segundo a TV Al-Qahera News, ligada aos serviços de inteligência do Egito. Após semanas de esforços diplomáticos, Egito, Catar e Estados Unidos têm buscado garantir uma proposta de trégua de seis semanas na guerra entre Israel e o Hamas antes do início do Ramadã, na próxima semana. Iniciadas no domingo, as tratativas por um acordo prosseguiram no Cairo nesta segunda-feira (4). 

“O Egito continua seus esforços intensos para alcançar uma trégua antes do Ramadã”, o mês de jejum muçulmano que começa em 10 ou 11 de março.“Houve progressos significativos nas negociações”, aponta a reportagem, que cita de forma anônima um funcionário de alto escalão do Egito. 

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, fez um apelo no domingo para que os dois lados aceitem a proposta de cessar-fogo de seis semanas diante da "imensa escala de sofrimento" em Gaza, alvo de bombardeios israelenses incessantes e à beira da fome.

"Dada a imensa escala de sofrimento em Gaza, deve haver um cessar-fogo imediato durante pelo menos as próximas seis semanas, que é o que está atualmente sobre a mesa", disse Kamala Harris. Esta foi a primeira vez que uma autoridade do primeiro escalão dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, pediu abertamente uma pausa das hostilidades.

Harris também fez um apelo a Israel, que controla a entrada de ajuda humanitária em Gaza, para "aumentar significativamente o fluxo de ajuda para uma população que precisa urgentemente de comida, água e outros tipos de assistência". "Israel não deve impor restrições ao envio de ajuda. Não há desculpas!", completou a vice-presidente de Joe Biden.
 

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, mais de 120 pessoas, a maioria civis, morreram nos bombardeios israelenses das últimas 24 horas contra vários setores de Gaza, o que eleva o total de vítimas fatais em quase cinco meses de conflito a 30.534.

Para aceitar um acordo, o Hamas exige o retorno dos deslocados ao norte de Gaza, o aumento da ajuda humanitária, um cessar-fogo definitivo e a retirada dos militares israelenses. Israel, que não participa nas negociações do Cairo, rejeita as condições e afirma que prosseguirá com as operações militares até "aniquilar" o Hamas. Também exige que o movimento palestino entregue uma lista dos reféns que permanecem em cativeiro em Gaza.

Um porta-voz do  Hamas disse nesta segunda (4) que o grupo palestino segue nas conversações sobre como garantir uma trégua em Gaza, apesar da decisão de Israel não participar nas negociações. “As negociações no Cairo continuam pelo segundo dia, independentemente da presença da delegação da ocupação no Egito”, disse à agência de notícias Reuters.

A tentativa de negociação acontece poucos dias após o massacre a um grupo de palestinos que esperava a chegada de caminhões de ajuda humanitária em Gaza. Na quinta-feira (29), soldados israelenses disparam contra palestinos que estavam em fila para ter acesso à alimentos. A ação resultou em 112 mortos e 750 feridos.

"Os famintos de três meses foram buscar alimento e foram assassinados pelas forças sionistas de Israel. Foi o cúmulo do absurdo. Viemos aqui para dizer que essa foi a gota d'água nesse genocídio que está acontecendo em Gaza e que o mundo tem que tomar uma atitude urgente e rápida para acabar com isso", disse Mohamad El-Kadri, presidente do Fórum Latino Palestino, durante ato contra as ofensivas militares do Estado de Israel. 

*Com AFP e Al Jazeera

Edição: Rodrigo Durão Coelho