Assumidamente privatista, a gestão do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é denunciada por precarizar a Universidade Corporativa da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), localizada no município de Sete Lagoas e conhecida como UniverCemig ou “Escolinha da Cemig”.
Jefferson Leandro, da direção do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética (Sindieletro/MG), explica que, ao impactar diretamente a atuação dos eletricitários, a piora das condições do centro de treinamento deve ser sentida inclusive pela população atendida pela empresa.
“Vai refletir na redução da boa qualidade da energia disponibilizada. O desmonte da escola faz parte do modelo de administração privada que está em curso na empresa. O efeito disso é, como aconteceu em São Paulo, por exemplo, onde a cidade tem convivido com apagões constantes”, avalia.
A UniverCemig, considerada referência nacional e internacional, foi criada em 1967 e é responsável pela capacitação dos trabalhadores da empresa para atuarem em atividades do setor elétrico, como a distribuição, a transmissão e a manutenção. Porém, nos últimos anos, a escola tem sofrido com o desinvestimento e constantes ameaças de fechamento.
Trabalhadores em risco
O diretor do Sindieletro/MG relata que o sindicato recebe permanentemente denúncias de realização de procedimentos equivocados pela empresa. Para ele, isso já é reflexo do processo de desmonte do centro de treinamento dos profissionais.
“Uma das coisas que a gente aprende, por exemplo, é que, para acessar uma rede elétrica desligada, é preciso fazer um procedimento anterior, que se chama aterramento. Na prática, você pega um cabo e o conecta à rede e ao solo, protegendo o trabalhador de ser eletrocutado. Recentemente, nós recebemos uma denúncia em foto de um aterramento instalado errado”, exemplifica Jefferson.
“O trabalhador, ao fazer errado, colocou sua própria vida em risco. Isso é fruto da falta de conhecimento de um procedimento simples, básico e primário para todos os eletricistas que vão atuar nas redes da Cemig. Isso deve piorar ainda mais com a intensificação da precarização da UniverCemig, já que o conhecimento técnico vai se perdendo”, complementa.
No último período, cresceu a quantidade de acidentes de trabalho na empresa. Em julho do ano passado, a morte de Gabriel Luciano da Silva Barbosa comoveu o estado. Com apenas 27 anos, ele foi eletrocutado enquanto trabalhava na Usina Hidrelétrica de Pai Joaquim, em Santa Juliana, no Triângulo Mineiro.
Barbosa tinha apenas dez meses de experiência na Cemig quando faleceu. Na época, eletricitários mais antigos destacaram que, no passado, para desempenhar as funções que o jovem cumpria, era necessário um longo período de preparação.
“Eu entrei na Cemig em 1988 e, até 1997, só tínhamos acidentes leves. Nos anos 2000, chegamos a ter um acidente fatal a cada 45 dias, fruto da mudança na ideologia de trabalho que coloca a segurança em segundo plano. E o governo Zema voltou com isso de forma ainda mais agressiva. Precisamos de uma investigação profunda da morte do Gabriel. Temos que entender tudo o que levou a isso”, comentou Jairo Nogueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/Minas), na época.
Situação é de degradação
A categoria denuncia que o governo Zema reduziu o quadro de instrutores da instituição, prédios e alojamentos da escola estão sem manutenção, e a quantidade de cursos oferecidos diminuiu.
No segundo semestre de 2022, a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu uma denúncia de que os alunos supostamente receberam refeições restragadas, e de que as dependências da instituição estariam mofadas e com infiltrações.
Em visita técnica, a comissão apurou que, na época, a média de 600 alunos caiu para 100 e o número de formadores diminuiu de 60 para 12.
“Constatamos uma série de problemas estruturais e de ordem política, mesmo aqui sendo o maior centro de treinamento do tipo da América Latina. A UniverCemig já chegou a ter mais de 1000 alunos e agora não chega nem a 80. O que nos parece é que a prática adotada aqui é uma preparação para o processo de privatização da empresa”, disse o deputado estadual Betão (PT), durante a visita.