ENTREVISTA

'Lei da Alienação Parental perpetua violências contra mães e crianças', afirma advogada

Andreza Santana, que atua na área de família, destaca a necessidade de revogar a lei

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Após 14 anos, Lei de Alienação Parental apresenta diversas contradições. Movimentos feministas reivindicam a revogação da lei. - Maia Rubim/Sul21

A Lei da Alienação Parental, aprovada e sancionada em 2010, tem sido objeto de intenso debate por seu impacto negativo na proteção das crianças e suas mães. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de um grupo de especialistas, fez uma recomendação ao Brasil em 2023 para que a lei seja revogada.

A justificativa da norma toma por base uma teoria desenvolvida na década de 1980 pelo psiquiatra estadunidense Richard Gardner. Mas esses estudos nunca foram comprovados cientificamente e são amplamente rejeitados pela comunidade científica internacional. Gardner por diversas vezes prestou serviços para pais acusados de abusos sexuais contra seus filhos, defendendo que a atitude da mãe em afastar a criança do pai seria prejudicial para a criança.

Poucos países desenvolveram leis baseadas nas teorias de Gardner – e a maioria deles acabou revogando a lei posteriormente, por não ser efetiva na proteção de crianças. Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, a advogada baiana Andreza Santana, que atua em causas de família, compartilhou suas percepções sobre a LAP e as consequências na vida das crianças e mães. Assista abaixo.

Uma das principais preocupações expressas pela advogada é que a LAP é utilizada para perpetuar estereótipos de gênero e amplificar desequilíbrios de poder no Judiciário. Segundo ela, muitas vezes as mães são retratadas como vingativas e desacreditadas, enquanto as crianças enfrentam o desafio de serem ouvidas e levadas a sério em questões familiares sensíveis.

A advogada observa que, embora tenha passado por algumas modificações recentes atenuando as punições sobre as mães, a lei segue sendo instrumento de ameaça para mães e coloca em risco crianças. Denúncias de abuso sexual por parte de pais contra os filhos são deslegitimados tendo por base a LAP e medidas protetivas são violadas devido a LAP, obrigando mães a conviverem de ex-maridos que ameaçam suas vidas.

Santana também ressalta que a lei foi concebida sem diálogo com as organizações de proteção infantil e as mães diretamente afetadas por suas disposições, o que levanta questões sobre a eficácia e a legitimidade da lei. Embora os parlamentares tenham voltado a discutir o assunto hoje, é crucial que as vozes das mulheres e das crianças sejam ouvidas de forma significativa.

A advogada enfatiza que, além das mudanças na lei, é fundamental desafiar e transformar as narrativas prejudiciais que cercam a parentalidade e os relacionamentos familiares. Isso requer uma abordagem ampla que reconheça as complexidades das dinâmicas familiares e promova soluções que priorizem o bem-estar das crianças e o empoderamento das mães.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vinícius Sobreira