MASSACRE PALESTINO

Assassinato de trabalhadores humanitários em Gaza por Israel foi intencional 

País é acusado de matar trabalhadores humanitários e usar fome como arma de guerra, segundo agências

|
A UNRWA é responsável por auxiliar mais de um milhão de palestinos deslocados durante a guerra
A UNRWA é responsável por auxiliar mais de um milhão de palestinos deslocados durante a guerra - SAID KHATIB / AFP

Um dia após o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmar que a morte de sete trabalhadores humanitários em Gaza foi um erro, uma investigação da Al-Jazeera mostrou que o ataque foi intencional. 

Citando depoimentos de testemunhas oculares, dados de fontes abertas e imagens do local do ataque, a Agência de Verificação Sanad da Al-Jazeera deixa claro que as forças israelenses lançaram três ataques aéreos, visando três veículos diferentes em três locais distintos — o que não pode ser atribuído a um erro. 

Outras avaliações também confirmam que houve intervalo considerável de mais de 30 minutos e uma distância de pouco mais de três quilômetros entre os três veículos quando foram atacados, o que descarta a possibilidade de bombardeio acidental. 

A World Central Kitchen (WCK), agência à qual os trabalhadores humanitários pertenciam, já declarou que os veículos atingidos pelos ataques aéreos israelenses eram claramente identificáveis, com marcas em negrito da WCK em seus tetos, e que seus movimentos foram coordenados antecipadamente com o governo israelense. 

Exceto por um palestino de Rafah, os outros seis trabalhadores humanitários mortos no ataque israelense eram de diversos países: três do Reino Unido, um do Canadá, um da Austrália e um da Polônia. A WCK exigiu investigação justa e independente sobre os assassinatos e apelou aos países dos quais os trabalhadores humanitários massacrados eram cidadãos, Austrália, Reino Unido, EUA, Canadá e Polônia, para se juntarem a eles na demanda por uma investigação. 

Os governos do Reino Unido, Canadá e Austrália têm relações diplomáticas próximas com Israel e, na maioria, têm apoiado a guerra israelense em Gaza, rotulando os atos de genocídio como o “direito de autodefesa” dos israelenses. 

Israel nunca forneceu explicações plausíveis sobre seus ataques anteriores a trabalhadores humanitários, como o massacre de trabalhadores do Comitê Internacional de Resgate em março. 

Israel paralisa trabalho de ajuda humanitária em Gaza 

Após o ataque, a WCK anunciou que está suspendendo suas operações em Gaza. Várias outras organizações humanitárias também tomaram a mesma decisão, ao perceber que a prestação de serviços de ajuda humanitária colocaria em risco a vida de seus trabalhadores. A ONU também anunciou a suspensão de suas atividades de entrega de ajuda durante a noite, por pelo menos 48 horas, na quarta-feira (3). 

Stephane Dujarric, porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirma que a suspensão da ajuda tem um “duplo impacto” nos palestinos que buscam auxílio, bem como um “efeito psicológico e assustador” nos trabalhadores humanitários restantes, que continuam fazendo o máximo para entregar ajuda às pessoas que dela precisam, mesmo correndo grandes riscos. 

A WCK estava auxiliando a Organização Mundial da Saúde (OMS) no fornecimento de alimentos para profissionais de saúde e pacientes em diferentes hospitais em Gaza. Os próprios profissionais de saúde estão trabalhando em condições excepcionalmente difíceis. A maioria dos hospitais em Gaza, incluindo o maior deles, Al-Shifa, foram fechados devido aos contínuos ataques feitos pelas forças israelenses. Os poucos hospitais ainda em funcionamento têm recursos limitados e estão superlotados de pacientes e pessoas buscando abrigo devido aos bombardeios israelenses. 

Os ataques aos trabalhadores da WCK não são raros ou excepcionais. O estado sionista atacou repetidamente trabalhadores humanitários, matando mais de 200 deles desde 7 de outubro, segundo a ONU. Israel reduziu deliberadamente o fluxo de ajuda, forçando alguns países a recorrerem ao lançamento de suprimentos por via aérea, o que também resultou em mortes. 

Nos últimos meses, as forças israelenses miraram e mataram centenas de palestinos que aguardavam a entrega de ajuda. Na maioria desses casos, as forças israelenses culparam os palestinos pelo congestionamento das ruas. 

Israel também realizou ataques direcionados à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA), que é a maior e mais eficaz agência de ajuda em Gaza. A UNRWA é responsável por auxiliar mais de um milhão de palestinos deslocados durante a guerra. Esses ataques foram baseados em alegações infundadas de colaboração com o grupo Hamas. Como resultado, vários países, incluindo os EUA e o Reino Unido, suspenderam seu financiamento à agência da ONU, citando essas declarações. 

Tudo isso ocorre em meio a relatos de várias agências das Nações Unidas sobre o aumento da fome entre centenas de milhares de palestinos em Gaza. Além disso, o risco de fome continua a crescer. Israel conseguiu violar tanto a ordem provisória do Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) como a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o fornecimento de maior acesso à ajuda humanitária aos palestinos. 

Como concluiu o Euro-Med Human Rights Monitor em relatório recente: “O uso da fome como arma foi decisão política oficial desde o primeiro dia da guerra, conforme declarado pelo Ministro da Defesa de Israel, e  implementado em estágios integrados, que incluíram o aperto do cerco e o fechamento das passagens pela fronteira; a prevenção da entrada de bens comerciais; destruição de todos os componentes da produção local e das fontes alimentares; o aumento da dependência da população da Faixa de Gaza em relação à ajuda humanitária; e a transformação dela em sua principal fonte de alimento”.