REDE SOCIAL X

Ao peitar Moraes, Musk cria narrativa de censura para fortalecer extrema direita em eleições, diz professora da UFPI

Ana Regina Rêgo explica os interesses do empresário dono da rede social X ao proferir ataques contra ministro do STF

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Musk subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes e ameaçou descumprir decisões judiciais - Britta Pedersen/AFP

O embate envolvendo o empresário bilionário Elon Musk e o Supremo Tribunal Federal (STF), personificado no ministro Alexandre de Moraes, tem motivação política, com interesse nas eleições brasileiras para beneficiar a extrema direita. Essa é a opinião de Ana Regina Rêgo, professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação.

Em um dos últimos ataques, o dono do X (antigo Twitter) utilizou a rede social para chamar Moraes de 'ditador brutal' e fala que o ministro do STF tem o presidente Lula 'na coleira'. Beneficiando a extrema direita, Musk também ganha com suas relações comerciais no Brasil, argumenta a professora. O empresário é proprietário da Starlink, empresa de internet por satélite que chegou ao Brasil com facilitação do governo bolsonarista.

"Tem uma pegada muito voltada para um processo ideológico e a extrema direita é mais favorável àquilo que pensa o Elon Musk. E também tem uma pegada mercadológica neoliberal que faz com que Musk se aproveite dessas relações com a extrema direita. Acho que esse momento é um momento favorável para ele entrar com esse debate no Brasil, porque a gente está aí à beira das eleições municipais em todo o país e a extrema direita tem se articulado desde sempre", diz a professora. Ela lembra que já houve interesse de conservadores mostrar força nas eleições para os conselhos tutelares.

Segundo Ana Regina, ao atacar o ministro do STF, Elon Musk tenta fabricar um embate pessoal, mas ataca as instituições de Justiça. "Ele [Elon Musk] quer personalizar esses ataques na figura do Alexandre de Moraes, mas, na verdade, ele tá atacando tanto o Supremo Tribunal Federal, portanto o Judiciário brasileiro, a nossa soberania, a nação brasileira"

Para a professora, Musk utiliza o poder que tem de ser dono de uma rede social para sustentar a narrativa de que há censura por parte de Moraes. A tensão entre o empresário e o ministro aumentou porque Musk ameaçou descumprir determinações judiciais de bloqueio de contas de usuários. Os alvos foram perfis que faziam apologia a golpe de Estado ou espalhavam notícias falsas.

"Ele conhece a sua potência e da sua rede no Brasil. O X tem milhões de usuários. Ele não negligencia esse mercado, mas ao mesmo tempo se utiliza para entrar com o pseudodebate sobre liberdade de expressão, que não é o grande problema da questão. Nem para ele. Com certeza é aquilo que move a opinião das pessoas, mas não é o que está no centro. No centro, temos questões econômicas, temos questões voltadas para a regulação e temos a questão ideológica, que é reeleger os políticos de extrema direita no mundo todo", expõe Ana Regina.

Os ataques de Musk contra Moraes geram reações no meio político, inclusive a respeito de regulação das redes sociais, um tema defendido por setores da sociedade civil e pelo governo Lula. 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cobrou regulação das redes sociais. Jaques Wagner, líder do governo na Casa Legislativa, também se manifestou e afirmou que "a regulamentação das plataformas digitais é absolutamente necessária, não por conta dessa ofensa descabida feita por esse empresário, mas sim porque a lei é uma norma de conduta para todos, inclusive para os bilionários". 

Luís Roberto Barroso, presidente do STF, divulgou nota em que afirma que "toda e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras", o que corrobora o pensamento da coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação, que diz ser urgente a aprovação de uma legislação nesse sentido.

"Precisamos aprovar com urgência, haja vista a iminência das eleições. Nós temos que as plataformas, assim como qualquer empresa que atue no Brasil, precisam estar sujeitas ao escopo legal deste país. E as plataformas precisam efetivamente responder e com transparência sobre por que e como impulsionam, por exemplo, os discursos de ódio, que levam à violência, por que e como fazem impulsionamento, recomendação e monetização de desinformação, discurso de ódio, teorias conspiracionistas", cobra.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta terça-feira (9) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Thalita Pires