Intifada estudantil

Repressão a protestos pró-Palestina está radicalizando estudantes, diz dirigente de esquerda dos EUA

Universidade de Columbia ameaça suspender manifestantes em meio a centenas de prisões e demissões de professores

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestantes marcharam em direção à Universidade de Columbia quando terminou o prazo de desocupação dado pela administração da universidade nesta segunda-feira, 29 de abril de 2024 - Michael M. Santiago / Getty Images via AFP

Estudantes continuam mobilizados contra o massacre de Israel na Faixa de Gaza nesta segunda-feira (29). A Universidade de Columbia em Nova York, epicentro dos protestos, determinou que os estudantes que não deixassem o acampamento no campus da instituição até a tarde desta segunda serão suspensos e terão negada a permissão para entrar nas dependências da universidade.

Na última quinta-feira (18), cerca de 100 manifestantes foram presos pela polícia de Nova York, convocada pela administração da universidade para colocar fim à manifestação. Imagens de estudantes, professores e jornalistas sendo detidos por policiais repercutiram na imprensa estadunidense durante todo o final de semana. Até esta segunda (28), mais de 900 pessoas foram presas em decorrência dos protestos.

"Mais do que a libertação da Palestina, muitos estudantes e profissionais estão se radicalizando pela repressão da segurança universitária a estes protestos", disse ao Brasil de Fato Luisa Martinez, integrante da Diretoria do Comitê Internacional ds Democratas Socialistas da America (DSA).

Ela considera os protestos tornam claros os interesses políticos e econômicos que movem as instituições acadêmicas, o Congresso e os meios de comunicação social estadunidenses, e destaca as demissões de professores como um fato revelador desse modus operandi.

"Trabalho diretamente com trabalhadores acadêmicos e, em geral, estão longe de ser comunistas radicais. Uma ideia que a maioria parece partilhar é um forte empenho na liberdade acadêmica e na liberdade de expressão. Historicamente, este aspecto tem moldado o movimento dos estudantes e dos trabalhadores acadêmicos nos EUA. Mais do que a libertação da Palestina."

Ela considera que a proximidade do final do ano letivo pode prejudicar a dinâmica dos protestos, com o regresso de muitos estudantes às suas casas. "Além disso, Biden e o Congresso parecem empenhados em apoiar este genocídio, então não é evidente que estes acampamentos tenham um impacto direto e imediato", avalia.

Apesar desse cenário, ela ressalta que as manifestações tem tido um importante papel para chamar a atenção mundial em relação ao que acontece em Gaza e são marcados por uma tomada de posição da população jovem estadunidense em relação ao conflito.

"Estes acampamentos e protestos são uma expressão ponderada e empenhada da solidariedade internacional dos jovens estadunidenses para com os nossos camaradas na Palestina. Como o apoio à Palestina nos EUA é marcado pela idade, é muito claro que quanto mais jovem se é, mais provável que simpatize com os palestinos nesta guerra."

As ações de solidariedade dos estudantes nos EUA tem gerado reações entre os pares na Palestina. "Quando vemos vídeos e imagens das universidades estadunidenses de hoje, lembramos da nossa história de luta estudantil, bem como das revoltas estudantis de 1968, que desafiaram o imperialismo, do Vietnã à Palestina, e remodelaram a face da Europa e dos Estados Unidos. Agora, em 2024, o movimento estudantil mais uma vez lidera o caminho", diz um comunicado assinado por 13 organizações palestinas de estudantes.
 

Edição: Matheus Alves de Almeida