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Como funciona a segurança de órgãos para transplantes no Brasil?

Repórter SUS conversou com especialista que detalhou todos os processos de controle das doações no Brasil

As regras são muito bem costuradas, praticamente sem deixar brecha

O recente caso de infecção por HIV em pacientes transplantados no Rio de Janeiro é um evento “raro e único” na história do Sistema Único de Saúde (SUS) e não desqualifica a qualidade dos processos de doação de órgãos no Brasil.  

Em funcionamento desde 1997, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) levou o país a ocupar o primeiro lugar entre as nações que mais realizam esse tipo de procedimento em todo o mundo. Ele é reconhecido internacionalmente como exemplo de sucesso.  

Em conversa com o podcast Repórter SUS, a médica infectologista Raquel Stucchi, da Comissão de Infecção em Transplantes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABDO), detalhou os processos que garantem a segurança no sistema de transplantes. 

“É preciso deixar bem claro que o sistema é muito robusto. As regras já são definidas e são compartilhadas com todos os envolvidos no transplante de órgãos e de tecidos. Todos conhecem muito bem as regras, que são muito bem costuradas, praticamente sem deixar brecha".

Na entrevista, ela afirmou que a ocorrência do Rio de Janeiro foi grave e chocou não só a população, mas também a rede de profissionais que atua e estuda na área de transplantes em todo o país. “Isso nunca tinha acontecido e podemos afirmar que nunca mais acontecerá, porque toda a fiscalização ficará ainda mais redobrada".

O que aconteceu  

Seis pacientes que receberam órgãos de duas pessoas portadoras do vírus HIV foram infectados. A investigação, conduzida pela Polícia Federal, Polícia Civil do Rio de Janeiro, Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde do Estado, aponta para a falha de um laboratório privado, denunciado por não realizar os testes obrigatórios. 

"Temos um sistema muito transparente e as regras são muito claras. Os exames são obrigatórios, se não são feitos, não há transplante.  No Rio de Janeiro, os fatos estão sob investigação policial. É essa a esfera a investigar mesmo. Parece que houve uma falha grave e grotesca dos envolvidos e responsáveis pela execução dos exames”, alerta Stucchi. 

Nesta semana, um dos pacientes infectados, um homem de 70 anos, foi internado em estado grave. Em resposta ao ocorrido, o governo do estado anunciou a substituição integral da diretoria da Fundação Saúde, responsável pela gestão das unidades de saúde estaduais desde 2021. Críticas apontam para a prevalência de contratações emergenciais em detrimento de processos de concorrência pública na instituição.  

Na conversa com o podcast, a infectologista também falou sobre a importância da conscientização sobre a doação de órgãos. Uma única pessoa que doa pode salvar a vida de até 20 pacientes. 
 

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