O indígena pataxó João Celestino Lima Filho, 50 anos, foi assassinado em mais um caso de violência relacionada a conflito fundiário no extremo sul da Bahia. Ele foi baleado na sexta-feira (4) e morreu no domingo (6), na área da Terra Indígena de Comexatibá, entre os municípios de Prado e Porto Seguro, lugar marcado por conflitos.
Organizados na retomada da fazenda Jarapa Grande, propriedade sobreposta à área reivindicada como território indígena, os Pataxós foram atacados por homens armados, segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). João Celestino foi baleado no abdômen e chegou a ser levado para uma unidade de atendimento de saúde, mas não resistiu.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra alguns indígenas reunidos. “Sempre a gente vem perdendo guerreiros e essa guerra nunca parou contra os povos indígenas”, diz um deles, que pede auxílio às autoridades para concluir a demarcação do território.
“Só indígena morre e eles acusam que os índios estão atirando neles, mas não morre ninguém. É muito estranho, né?”, diz um indígena morador da área, que pede para não ser identificado.
A região sul da Bahia é marcada pela violência contra os povos indígenas. De acordo com informações do Cimi, o território é cobiçado por agentes do agronegócio e dos setores imobiliário e do turismo.
Em março deste ano, uma família Pataxó teve a casa incendiada no território Comexatibá. O crime aconteceu enquanto cerca de 300 indígenas dos povos Pataxó e Tupinambá participavam, em Brasília (DF), da audiência pública que discutia a demarcação de terras indígenas na Bahia

A violência na região, no entanto, é anterior a isso. “No extremo sul baiano, o povo Pataxó luta, há anos, pela conclusão da demarcação das Terras Indígenas (TIs) Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal. Cansados de esperar por providências do Estado e sem espaço para praticar seu modo de vida tradicional, deram início a um movimento de retomada e autodemarcação de seus territórios, entre 2022 e 2021”, informa um trecho do relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil, de 2023, organizado pelo Cimi.
De acordo com o documento, a reação de fazendeiros e latifundiários da região foi de extrema violência e vitimou, no início de 2023, dois jovens Pataxó: Samuel Cristiano do Amor Divino, de 23 anos, e Nauí Brito de Jesus, de 16.
“Entre 2022 e 2023, quatro policiais militares (PMs) foram presos, acusados destes dois assassinatos e do homicídio de Gustavo Pataxó, 14 anos, morto em um ataque em setembro de 2022 na TI Comexatibá”, informa o relatório.
Gustavo Silva da Conceição, o Gustavo Pataxó, foi assassinado em setembro de 2022, em um ataque organizado por cerca de 12 homens. Outro jovem que estava no local foi ferido com um tiro no braço.