No Ibura de Baixo, zona sul do Recife, os mais de 300 estudantes da Escola de Referência (Erem) Apolônio Sales estão descontentes com a estrutura oferecida pela instituição. Ao cruzar o portão, já se deparam com um matagal que supera um metro de altura no pátio da escola, um ambiente propício para bichos e insetos. Os problemas se estendem a banheiros entupidos, vazamento de esgoto próximo ao refeitório, mau cheiro constante, ventiladores quebrados, salas de aula quentes e até larvas na comida servida no refeitório.
Os próprios alunos têm produzido e divulgado vídeos denunciando a situação da escola. A estudante do ensino médio M. F., que preferiu não se identificar, entrou em contato com o Brasil de Fato Pernambuco para denunciar a situação. Ela descreve o período de três semanas entre março e abril como “os piores dias que os alunos já passaram na escola”. “Um odor insuportável tomou conta de quase todas as salas de aula e também dos refeitórios”, diz a jovem.
M. F. também lamentou que durante este período a gestão escolar não tenha permitido aos estudantes realizarem as refeições em outros espaços que não o refeitório. O vazamento da fossa foi solucionado pela direção da escola após um protesto realizado pelos estudantes.
Mas os banheiros também são um problema. Pias entupidas, sanitários interditados e um constante odor, classificado pela estudante como “fora do normal”. “A água transborda da pia, alaga o banheiro e o corredor. Fica um lamaçal”, explica M. F.
A escola possui 11 turmas, todas de ensino médio, e funciona no formato integral. Os mais de 300 jovens permanecem na instituição das 7h às 17h de segunda a sexta-feira. Para os jovens, há apenas dois banheiros (um masculino e um feminino), com seis cabines cada – no feminino, duas estão interditadas. “Fica um tumulto para usar o banheiro”, reclama a aluna.
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O matagal no pátio da escola é também um problema sanitário. “Já aconteceu várias vezes de entrarem sapos e baratas nas salas de aula”, relata M. F. “Além de que é uma área enorme, abandonada, que poderia ser muito mais bem aproveitada”, diz. Segundo ela, a situação está assim há mais de um ano. “Desde que entrei na escola continua do mesmo jeito”, denuncia.
Disputa com gatos por merenda com larvas
No último dia 9 de abril, estudantes flagraram larvas na refeição servida pela escola. “Acho que quase ninguém se sente confortável em comer a merenda da escola sabendo que a qualquer momento pode encontrar bichos”, diz a aluna. Há relatos de que gatos de rua circulam pela cozinha da escola e sobem nas mesas do refeitório para disputar as refeições dos estudantes. “Isso é humilhante para nós”, lamenta M. F.
Ventiladores quebrados
A estudante afirma que entre as 11 turmas que passam o dia na escola, apenas três têm salas com ar-condicionado, enquanto as demais dependem dos ventiladores e do clima da cidade. “Muitos estão quebrados. E entre os que funcionam, parte não gira, então o vento não chega para todo mundo. As salas ficam extremamente abafadas”, explica a estudante. Nas duas primeiras semanas do mês de abril de 2025, durante o outono, a temperatura média na capital pernambucana foi de 29,9 ºC. “Ficar nesse calor atrapalha muito o aprendizado. É difícil se concentrar”, diz ela.
A pauta do calor nas salas de aula e as demandas por ar-condicionado têm sido uma constante nas reivindicações de estudantes e professores da rede pública estadual de Pernambuco. O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Educação de Pernambuco apresentando questionamentos sobre a situação da Erem Apolônio Sales. Também tentamos contato com a escola, por telefone, mas sem resposta. O texto será atualizado caso as instituições se manifestem.
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Governo de Pernambuco promete vistoria e ar condicionado
Em nota enviada ao Brasil de Fato, a Secretaria de Educação (SEE) afirma que a Erem Apolônio Sales “é acompanhada por uma nutricionista que realiza visita técnica de rotina”. O texto diz ainda que, na terça-feira (15), um dia após a publicação da matéria, foi enviada uma equipe técnica de nutrição diferente para realizar um parecer. A SEE diz que “as agentes de alimentação escolar recebem formações periódicas conforme padrões estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
“A Erem está abastecida de gêneros perecíveis e não-perecíveis, para o fornecimento adequado da alimentação escolar, assegurando a qualidade e a segurança dos alunos. (…) Os agentes de Alimentação Escolar passam por capacitações semestrais e sistemáticas in loco durante todo ano letivo”, diz a nota enviada ao Brasil de Fato Pernambuco.
Já sobre a climatização da escola, o texto em resposta à reportagem diz que a escola tem quatro salas com ar-condicionado e que as demais ainda precisam de uma subestação de energia para suportar a carga elétrica. “O prazo previsto para instalação dos equipamentos é julho”, prometeu o Governo do Estado. Sobre os problemas nos banheiros, vazamento de esgoto e o mato de 1 metro de altura no pátio, a nota diz apenas que “a manutenção da escola é realizada periodicamente e de acordo com as necessidades encontradas”.
“A SEE reafirma seu compromisso com o diálogo permanente com a construção de um ambiente escolar cada vez mais acolhedor, seguro e adequado ao desenvolvimento dos estudantes”, finaliza a nota.