A China pode retaliar países que reduzam o comércio com Pequim em troca de alívio tarifário dos Estados Unidos. O alerta foi dado por um porta-voz do Ministério do Comércio chinês nesta segunda-feira (21).
“A China se opõe firmemente a que qualquer parte chegue a um acordo [com os Estados Unidos] às custas de seus interesses, se tal situação ocorrer, a parte chinesa nunca aceitará e tomará contramedidas de forma firme e equivalente”, afirmou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês nesta segunda-feira (21).
A declaração foi em resposta à notícia de que assessores econômicos de Donald Trump estariam discutindo pressionar países para reduzirem seu comércio com a China em troca de alívio ou isenções nas “tarifas recíprocas”, – cuja implementação foi adiada até 9 de julho. A informação foi divulgada pela agência Bloomberg na última quinta (17), com base em fontes não reveladas.
O plano dos EUA seria impor “tarifas secundárias” em países que possuem laços comerciais estreitos com a China. Uma tarifa desse tipo foi criada recentemente contra a Venezuela. A partir de 2 de abril, “qualquer país que importe petróleo venezuelano, seja diretamente da Venezuela ou indiretamente por meio de terceiros”, terá uma tarifa de 25% em todos os bens importados pelos EUA do país em questão, determina a Ordem Executiva assinada por Trump.
O ministério chinês afirmou que o país está disposto “a fortalecer a unidade e a coordenação com todas as partes, trabalhar juntos para resistir a atos de bullying unilaterais”. Ainda segundo a Bloomberg, o governo dos EUA não quer que os países importem os produtos chineses que deixarem de entrar ao mercado estadunidense em razão das tarifas.
Trata-se de “políticas hegemônicas e intimidação unilateral no campo econômico e comercial sob o pretexto da ‘reciprocidade'”, disse o Ministério de Comércio nesta segunda-feira. Segundo o órgão, os EUA estão coagindo seus parceiros comerciais a negociar, abusando das tarifas.
O ministério também afirmou o país asiático “respeita que todas as partes resolvam suas diferenças econômicas e comerciais com os Estados Unidos por meio de consultas equitativas [e] acredita que todas as partes devem se posicionar do lado da justiça e da equidade em relação à questão das ‘tarifas equivalentes'”
China aposta em diálogos de alto nível com vizinhos
Enquanto o governo Trump aguarda uma proposta de acordo por parte da China, o governo de Xi Jinping parece apostar no fortalecimento do diálogo com seus parceiros regionais e de outros continentes. Na semana passada, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que “a bola está na quadra da China: a China precisa fazer um acordo conosco, nós não precisamos fazer um acordo com eles”.
Xi Jinping dedicou a semana passada a fazer sua primeira viagem internacional do ano. Em cada um dos países que visitou (Vietnã, Malásia e Camboja), o mandatário chinês fez um chamado a se opor conjuntamente ao hegemonismo, unilateralismo e protecionismo.
No Vietnã, foram assinados 45 documentos de cooperação bilateral, em áreas como inteligência artificial, inspeção alfandegária e quarentena, comércio agrícola, entre vários outros. Um dos destaques foi o lançamento do mecanismo de cooperação ferroviária China-Vietnã. O projeto deve alinhar as bitolas (distância entre os trilhos), dos dois países para melhorar o transporte de mercadorias e pessoas.
Com o governo cambojano foram assinados 37 acordos, entre eles o compromisso de acelerar os projetos de Corredor Industrial e Tecnológico e o Corredor de Pesca e Arroz, que visam ampliar a cooperação industrial, tecnológica, comercial, agrícola e de investimento entre os dois países. No caso da Malásia, foram 31 documentos, em áreas similares.
Nos três casos, as declarações conjuntas – um documento divulgado a cada encontro do presidente chinês com chefes de Estado –, reafirmaram o compromisso de resolver de forma pacífica as diferenças relativas ao Mar do Sul da China.
Embora o Camboja não tenha território nesse mar, participa dos debates sobre as disputas, na Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei são os países que têm disputas territoriais nesse mar com a China. O conflito mais latente é com a Filipinas que tem uma abordagem menos inclinada ao diálogo em comparação com os demais, e desenvolve acordos militares com os Estados Unidos nesse processo.
China e Indonésia inauguram novo mecanismo de diálogo
Nesta segunda-feira (21) foi realizada a primeira reunião do chamado mecanismo de diálogo “2+2” China-Indonésia entre ministros das Relações Exteriores e ministros da Defesa, em Pequim. É o primeiro instrumento do tipo do qual a China participa.

O chanceler chinês Wang Yi disse que o mundo “está enfrentando impactos severos do unilateralismo e do hegemonismo”, e destacou que 2025 é o 80º aniversário da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista [como a China chama a Segunda Guerra Mundial] e o 70º aniversário da Conferência de Bandung. A Indonésia é integrante do G20 e este ano entrou como membro pleno no Brics, sob a presidência do Brasil.
O ministro das Relações Exteriores da Indonésia, Sugiono, afirmou que seu país está disposto a “consolidar ainda mais a confiança política mútua, fortalecer os intercâmbios em todos os níveis, aprofundar a cooperação mutuamente benéfica em áreas como economia e comércio, agricultura e pesca, energia, assistência médica e economia digital, fortalecer a comunicação e a cooperação em estruturas multilaterais como a ASEAN-China e alcançar a prosperidade comum”.