O vereador Toninho Vespoli (Psol) foi agredido fisicamente por Rubinho Nunes (União Brasil) nesta terça-feira (29), durante uma sessão na Câmara Municipal de São Paulo. A confusão aconteceu durante a votação do projeto de reajuste salarial dos servidores municipais, aprovado sob protestos dos trabalhadores e vereadores da oposição. Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, Vespoli condenou a violência e afirmou que o clima de ódio e intolerância política tem se agravado com o avanço da extrema direita na Casa.
Durante sua fala na tribuna, Vespoli protestava contra o tratamento ofensivo dado por parlamentares da direita aos servidores municipais, especialmente aos professores. Em resposta a cartazes levantados por vereadores aliados do governo, com frases como “Greve é vadiagem”, ele ergueu um cartaz com os dizeres: “Vagabundagem é vereador que só quer lacrar na internet”.
A atitude irritou Rubinho Nunes, que se dirigiu ao vereador do Psol para tomar o cartaz. Vespoli reagiu jogando o cartaz sobre o colega, o que desencadeou uma confusão na tribuna. Outros parlamentares, como Lucas Pavanato (PL), tentaram intervir. Servidores que acompanhavam a sessão na galeria protestaram, gritando “Fora, Rubinho!”. Vespoli deixou a tribuna após a discussão.
“Estão se naturalizando agressões e discursos de ódio. E isso não pode passar em branco. A agressão física foi só parte de algo maior, porque o que vimos ontem foi também racismo aberto”, afirmou. O vereador se refere a uma fala da vereadora Cris Monteiro (Novo), que disse, durante a sessão, que “uma mulher branca, bonita e rica incomoda”.
Para Vespoli, a declaração foi dirigida a mulheres negras presentes na Câmara, entre elas a vereadora Luana Alves (Psol) e a servidora pública Shirley Pimentel de Souza, dirigente sindical do Coletivo de Profissionais da Educação (CPN). “Ela mandou Luana calar a boca. Depois, soltou essa fala. Mesmo usando a palavra ‘vocês’, ela apontou para Shirley, quando ela fez o comentário dizendo que é rica, branca e bonita, estava falando diretamente para uma mulher negra. O que ela quer dizer com isso? Que as pessoas negras são feias?”, questionou.
Luana Alves entrou com uma representação na Corregedoria da Câmara, e Shirley está em contato com advogados para avaliar a possibilidade de acionar o Ministério Público por racismo. Vespoli destacou que a bancada do Psol fará uma reunião na próxima terça-feira (6) para definir quais ações serão tomadas de forma coletiva.
Durante a sessão, parlamentares da base de Nunes tentaram ridicularizar o movimento grevista dos servidores com cartazes e falas ofensivas. “Estavam associando servidores a porcos, a drogas, como se professores fossem traficantes. […] Não é possível que na nossa sociedade professores ou qualquer categoria sejam tratados assim, gerando ódio contra quem está na ponta, na periferia, na saúde, na assistência social, na educação, nas subprefeituras, trabalhando por um atendimento de qualidade”, denunciou Vespoli.
Morador da zona Leste, no bairro de Itaim Paulista, o vereador reafirmou seu compromisso com as pautas populares. “Eu sou da periferia. Sei o que é o problema do transporte, da UBS [Unidade Básica de Saúde], da merenda. A gente tem uma visão de mundo diferente daqueles que têm outra realidade de vida e não conseguem entender os problemas da maioria”, afirmou.
“Reajuste não cobre nem a inflação e abono beneficia só a base”
Vespoli criticou o reajuste de 5,2% aprovado pela Câmara para os servidores municipais, dividido em duas parcelas, como uma “perda salarial” frente à inflação acumulada. Segundo ele, a proposta do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não repõe nem os 4,8% da inflação do ano passado e, ao fixar agora o índice de 2,55% para 2026, já impede uma nova negociação no próximo ano, mesmo que a inflação seja maior. “É perda salarial no ano passado, perda salarial este ano, e, com isso, já está falando que não vai ter qualquer discussão no ano que vem”, disse.
O vereador apontou ainda que o acúmulo de defasagem salarial vem de décadas, com reajustes simbólicos de 0,01% em anos anteriores. Para ilustrar, citou o caso de uma agente escolar com mais de 30 anos de carreira que, ao se aposentar, recebe pouco acima de um salário mínimo. “Como pode São Paulo, o terceiro maior orçamento do Brasil, tratar seus servidores assim?”, questionou. Ele afirmou que os servidores pediam 44% de reposição, mas muitos sindicatos já abriram mão e agora reivindicam 12%, relativos apenas às perdas dos últimos anos.
Outro ponto criticado foi o fato de a gestão ter optado por conceder parte dos aumentos em forma de abono, e não como reajuste incorporado ao salário. De acordo com Vespoli, esse abono só atinge quem está na base da carreira, ou seja, cerca de 2% a 3% do total de servidores. “O prefeito fala em 40% de aumento nos últimos anos, mas isso é uma grande mentira. Ele deu um valor maior em forma de abono para a base, e não de incorporação no salário”, disse.
Para o vereador, a desvalorização dos servidores faz parte de uma campanha de desinformação ligada à extrema direita que tenta pintar o funcionalismo como “privilegiado”, alimentando o ódio contra a categoria.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.