Os Estados Unidos (EUA) e a Ucrânia assinaram na última quinta-feira (30) um acordo sobre as chamadas “terras raras” ucranianas. O acerto prevê acesso privilegiado a Washington em novos projetos para explorar recursos naturais na Ucrânia, incluindo alumínio, grafite, petróleo e gás natural.
A confirmação foi divulgada pelo Departamento do Tesouro dos EUA. O projeto também prevê a criação de um fundo de investimento para restaurar a Ucrânia e é encarado pela Casa Branca como uma contrapartida à ajuda militar e financeira a Kiev no conflito com a Rússia nos últimos anos. Anteriormente, Trump declarou que o acordo permitiria aos EUA devolver “bilhões de dólares” alocados a Kiev desde fevereiro de 2022.
“Em 30 de abril, os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram um acordo que estabelece o Fundo de Investimento e Reconstrução EUA-Ucrânia. Em reconhecimento ao significativo apoio financeiro e material que o povo dos Estados Unidos forneceu à defesa da Ucrânia”, diz o comunicado.
Segundo a vice-primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, o acordo pressupõe que Washington e Kiev terão direitos iguais no âmbito do fundo bilateral de investimento. Ela observou que os EUA poderão fazer contribuições, inclusive por meio de nova ajuda militar a Kiev. Além disso, o fundo de investimento será reposto com receitas de novas licenças na área de projetos de subsolo.
Ainda segundo Svyrydenko, o fundo investirá em projetos de extração de minerais, petróleo e gás, bem como em infraestrutura e processamento relacionados. A vice-primeira-ministra afirmou que a expectativa é de que nos primeiros dez anos toda a renda seja investida exclusivamente na Ucrânia.
Inicialmente, Kiev insistiu que garantias de segurança por parte dos EUA fossem incluídas no acordo, cláusula que recebeu rejeição da Casa Branca. Nas informações sobre o acordo, divulgadas nesta quinta-feira (1º), não foram especificados detalhes sobre apoio militar à Ucrânia.
A assinatura do acordo sobre recursos foi planejada no final de fevereiro, mas o desgaste nas relações entre Vladimir Zelensky e Donald Trum após a discussão no Salão Oval da Casa Branca esfriou as negociações. Posteriormente, Washington apresentou a Kiev uma nova versão da proposta, que previa que os EUA receberiam acesso privilegiado aos depósitos minerais ucranianos. Foram semanas de difíceis negociações até que as partes chegaram a um consenso depois que Trump e Zelensky se encontraram no Vaticano em 26 de abril para o funeral do Papa Francisco.
‘Interesses geopolíticos’
As chamadas terras raras ucranianas entraram no centro do debate durante as negociações entre EUA, Rússia e Ucrânia, para se chegar a uma resolução do conflito ucraniano. A exploração de recursos minerais valiosos ucranianos virou aposta para os EUA conseguirem um acordo com Moscou, mas também diz respeito a interesses geopolíticos mais amplos.
Por um lado, como a Ucrânia tem importantes reservas de recursos valiosos, as “terras raras” viraram um instrumento político de Kiev para barganhar apoio dos EUA em meio a um esfriamento do apoio da Casa Branca após a chegada de Donald Trump ao poder.
Ao mesmo tempo, o interesse dos Estados Unidos nas terras raras ucranianas está ligado a um objetivo geopolítico mais amplo: a estratégia de combater a China, que é líder mundial no processamento de minerais de terras raras, sendo responsável por cerca de 70% da produção global.