O músico gaúcho Ciro Ferreira é um dos 40 integrantes do barco Conscience, da coalizão internacional Flotilha da Liberdade, que foi atacado por drones na madrugada da última sexta-feira (2), na ilha de Malta. Convidado por outro brasileiro e um dos coordenadores da missão, Thiago Ávila, diz que a missão havia sido mantida sob sigilo para justamente evitar sabotagens.
Segundo ele, o objetivo da missão é abrir um corredor humanitário por mar para entrada de ajuda humanitária a Gaza que há dois meses não recebe “sequer uma garrafa de água potável, nem um saco de farinha por lado nenhum”.

Confira a entrevista exclusiva ao Brasil de Fato RS.
Brasil de Fato RS: Como foi que você chegou à Flotilha da Liberdade?
Ciro Ferreira: Cheguei a convite do companheiro Thiago Ávila, um dos coordenadores da missão, brasileiro de Brasília. Um militante internacionalista que conhece meu trabalho e meu compromisso como artista popular no que tange ao envolvimento com a causa da autodeterminação dos povos, que hoje tem sua principal expressão na defesa da liberdade da Palestina.

Qual o objetivo dessa missão?
O objetivo da nossa missão é abrir um corredor humanitário por mar para entrada de ajuda humanitária a Gaza que há dois meses não recebe sequer uma garrafa de água potável, nem um saco de farinha por lado nenhum. Sabendo que por terra é mais difícil, e sabendo que o mundo não pode ficar de braços cruzados vendo tamanha desumanidade da parte do sionismo supremacista que trata os palestinos como animais, decidimos fazer nossa parte. Gente de 21 nacionalidades entre médicos, advogados, artistas e ativistas das mais distintas matizes identificados com a causa palestina decidimos entrar num barco colocando nossos próprios corpos em risco para que, uma vez aberto o corredor, outros viessem depois de nós.
Quantas pessoas participam?
Quarenta pessoas no barco, porém muito mais gente em terra nos dando suporte. O número exato não sei.
Como foi o ataque dos drones?
Quando nos aprontávamos para sair, a meia noite e vinte um minutos do horário local, drones vindos não se sabe de onde se aproximaram sem que pudéssemos ter reação e explodiram próximo do gerador do barco danificando sua estrutura elétrica e causando um buraco no casco pelo qual a água começou a entrar.
O barco teve um incêndio na proa que tardou muito a ser apagado. A ajuda oferecida foi abandonar o barco, e ela foi negada posto que não sabíamos de onde vinha essa ajuda e entendemos como suspeita. A tripulação foi resgatada horas depois.
O povo se protegeu saindo da área do incêndio e tentando por vias próprias controlar o fogo depois de entender que o alvo não eram as pessoas, mas sim o barco e que naquele momento pelo menos, acreditava-se que não aconteceria um outro ataque. Como de fato não ocorreu.
Vocês permanecem na ilha de Malta? Qual o destino agora?
Sim. Permanecemos na ilha de Malta onde estamos desde o dia 28 de abril em preparação para a viagem rumo a Gaza. O barco ficou em águas internacionais com medo de um novo ataque posto que o governo de Malta negou a ajuda de autorizar o barco a ancorar em águas maltesas. Fizemos um protesto em frente à sede das forças armadas da ilha, mas não surtiu grandes efeitos.
O destino segue sendo o mesmo. O objetivo da Flotilha é, com nosso barco chamado Conscience, chegar a Gaza e levar ajuda humanitária. Porém se tornou infinitamente mais difícil agora. O que faz com que dois dias após o ataque ainda estejamos avaliando o modo que faremos isso.
Como avalias a situação? Por que desse ataque a uma missão humanitária?
Avaliamos que o sionismo é um movimento supremacista que tem como objetivo a limpeza étnica da Faixa de Gaza e que eles não medem esforços em bombardear profissionais das Nações Unidas, médicos, jornalistas, mulheres, crianças, idosos, mesquitas, igrejas, nem nada que eles entendam que está no seu caminho na construção do perverso plano de expandir as fronteiras do chamado estado de Israel. Nosso barco foi apenas mais um alvo.
Enquanto o mundo ocidental e a maioria do mundo árabe forem cúmplices desse genocídio o sionismo não vai deter sua sanha imperialista que como sabemos, sempre foi um projeto de base estadunidense para garantir seus interesses no Oriente Médio.
Nossa missão é uma pedra no sapato de Netanyahu. E por isso eles tentaram tirar o sapato e a pedra antes de começar a caminhar. Conosco estaria, por exemplo, a grande ativista jovem Greta Thumberg, que tive o prazer de conhecer e conviver nessa semana e entender que existe uma geração nova que não vai deixar os sonhos da minha geração caírem.
Quando voltas para casa?
Volto pra casa quando os companheiros que coordenam a Flotilha da Liberdade me disseram que meu papel aqui foi finalizado e que aguardamos uma nova fase dessa missão que com certeza não se encerra aqui.
Voltarei com muita confiança e uma vasta bagagem de experiências acumuladas, bem como uma imensa esperança de que cedo ou tarde, do rio ao mar a Palestina vencerá e abrirá as portas de uma nova fase na construção da autodeterminação dos povos, que como dizia o mestre Mariátegui, heroicamente construirão cada um a seu modo o socialismo.
