A estação de metrô Campo Limpo, na zona Sul de São Paulo, gerida pela empresa privada ViaMobilidade, foi alvo de um protesto convocado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na tarde desta quarta-feira (7). O ato foi realizado um dia depois de um passageiro, Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, de 35 anos, morrer prensado no vão entre o trem e a porta da plataforma.
“A manifestação de hoje foi mesmo, para além de mostrar solidariedade à família do companheiro que perdeu sua vida, foi para mostrar também a indignação e o que a população passa no metrô de São Paulo”, diz Cleik Simone, conhecida como Moni do MTST, que classifica o acontecido como uma “tragédia anunciada”.
Eram 8h10 da última terça-feira (6) quando Lourivaldo – repositor de supermercado, estudante de educação física e pai de três filhos – tentou entrar correndo no trem da estação Campo Limpo, da linha 5-lilás do metrô.
Ele passou a porta da plataforma, que funciona como uma barreira para o acesso ao trilho quando o trem não está. Mas não deu tempo de cruzar a porta do vagão, que fechou. O homem ficou preso no vão. E o trem partiu. Testemunhas descreveram a cena à imprensa como um “filme de terror”. No próximo domingo (11), Lourivaldo faria um churrasco de aniversário.
“Quando tudo for privatizado, seremos privados de tudo – até da nossa própria vida”. Com esse mote, os manifestantes se reuniram na porta da estação, segurando velas e cartazes, que foram colados nas paredes. Com a foto de Lourivaldo, um dos cartazes denuncia: “não foi acidente, foi negligência”.

“O que aconteceu é algo que já estava anunciado. Vêm as privatizações (…), e os serviços só vão piorando”, diz Moni.
Além do MTST, participaram do ato integrantes do Sindicato dos Metroviários, do Movimento Passe Livre (MPL), do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e do Movimento Luta de Classes. Com tinta vermelha, a frase “Tarcísio, a culpa é sua” foi pintada no chão.
A linha 5-lilás, que liga o Capão Redondo à Chácara Klabin, foi transferida para a iniciativa privada em 2018, durante o governo de Geraldo Alckmin, então no PSDB. Formada pelo Grupo CCR e Ruas Invest Participações, a concessionária ViaMobilidade venceu o processo e assumiu a concessão por 20 anos.

Janaína*, militante do MPL, reforça que o caso é uma tragédia anunciada. “A gente vem vendo uma série de outros acidentes, acontecendo nas vias privatizadas. Mês passado a gente teve casos de incêndio, casos de falhas, casos, inclusive, de outras pessoas presas entre as duas portas”, diz.
Em entrevista ao programa Conexão BdF 2ª edição, da Rádio Brasil de Fato, Camila Lisboa, do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, lembrou de outro caso, em 12 de julho de 2023, também na linha 5. “A pessoa saiu com ferimentos, mas ela não morreu. Desde então, a ViaMobilidade deveria ter tomado uma atitude. Esse tipo de tecnologia, esse tipo de sensor, ele poderia muito bem ter sido instalado, como foi instalado na linha 1, como é instalado na linha 3”, disse. As linhas 1-Azul e 3-Vermelha, que possuem os sensores, continuam sob gestão da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô).
Lisboa denunciou a precarização decorrente das privatizações. “Pra ter segurança, tem que ter investimentos e o que a privatização faz é a lógica da redução de custos, é o lucro acima de tudo, é o lucro acima da vida”.
Uma situação similar, mas sem um fim fatal, aconteceu no último 24 de março, na estação Vila Prudente da linha 2-verde do metrô, que é estatal. Uma passageira ficou presa no vão e o trem não saiu até que ela fosse retirada sem ferimentos. Diferentemente da ViaMobilidade, o Metrô de SP informou que possui, nas estações onde existem portas nas plataformas, sensores no vão justamente para evitar que pessoas fiquem presas no espaço. Das 91 estações de metrô em São Paulo, 53 tem esse tipo de porta.
Questionada pelo Brasil de Fato, a concessionária informou que “lamenta profundamente o acidente” e que o passageiro tentou entrar no vagão “mesmo após todos os avisos visuais e sonoros”. A ViaMobilidade afirmou que possui sensores que impedem que o trem saia caso alguma das portas esteja obstruída. Não há nenhum sensor, no entanto, no espaço entre as portas, onde Lourivaldo ficou preso.
“A concessionária trabalha em um projeto para a implantação de sensores adicionais de presença. Cabe destacar que esta tecnologia é muito recente e seu uso no mundo ainda é uma exceção, sendo a concessionária uma das pioneiras na adoção deste tipo de solução. Sua instalação envolve uma série de questões técnicas e testes, razão pela qual sua implantação não é imediata. Na linha 5-Lilás, o cronograma prevê concluí-la no primeiro trimestre de 2026, data que pode ser antecipada conforme os resultados dos testes”, declarou a ViaMobilidade, em nota.
*O nome foi alterado para preservação da fonte