Vanusa Patricia Antunes, Eni Gomes e Eloísa Moraes são mulheres que vivem na periferia do Vale dos Sinos, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Eni e Eloísa são pessoas negras, mais velhas, e Vanusa é mais jovem. Elas atuam em suas comunidades e são referências em setores como o Carnaval, movimento social e religião. A história delas é contada na série Territórios do Sinos, da jornalista, produtora e diretora Mariana de Mattos. Realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo, o filme estreia nesta sexta-feira (23), na Ocupação Mauá (Rua dos Adventistas, 60, Santos Dumont), às 19h, sessão com acessibilidade e, às 20h, sessão geral.
A diretora conta que a série teve inspiração em um projeto que ela desenvolveu para o canal da Raízes Web Rádio, veículo de comunicação do Vale dos Sinos, em 2021. Nesse projeto entrevistou pessoas indígenas da Aldeia Por Fi Gá, em São Leopoldo. De acordo com Mattos a ideia sempre foi ir até os territórios populares entrevistar as referências comunitárias desse lugares, mostrando a forma de organização e liderança do povo, buscando mostrar personagens que não costumam ser apresentados na narrativa germânica da região de Novo Hamburgo e São Leopoldo.
“Então, a maior motivação era dar visibilidade a pessoas que estão atuando de diversas formas em seus territórios, mas que não têm suas histórias narradas pelo cinema ou pelos veículos de comunicação hegemônicos”, expõe.

Foi através da sua participação na luta dos movimentos sociais, do Carnaval e da comunicação popular que se deu a produção. “Ao longo da minha vivência no Vale dos Sinos (cheguei em 2020 em Novo Hamburgo, depois me mudei para São Leopoldo em 2022, retornando para Novo Hamburgo em 2024) sempre estive ao lado das mobilizações sociais, conhecendo pessoas que são parte destas lutas e vendo o quanto essas histórias precisavam ser contadas, principalmente, em uma região que invisibiliza a população negra, indígena e pobre.”

O contato com a periferia local a fez imaginar a série, contando a história de luta dessas pessoas de uma forma que as empodere, que as valorize e não de forma depreciativa, como normalmente aparece na mídia, argumenta a jornalista. “Então, eu já tinha a ideia da série desde 2021, mas foi graças aos recursos da Lei Paulo Gustavo que pude colocar em prática com mais qualidade, com uma equipe audiovisual.”
A versão com acessibilidade conta com Libras, legendas e audiodescrição, realizadas por Alini Mariot. A sessão geral contará com a presença de Vanusa e Eni, que poderão conversar com o público presente sobre a série.
Quem são as mulheres retratadas na série
Vanusa é liderança do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) São Leopoldo, responsável pelas famílias da Ocupação Mauá, na linha do trem. Eloísa é diretora de Carnaval da escola de samba Imperadores do Sul, de São Leopoldo, sendo uma das poucas mulheres na linha de frente do Carnaval. Já Eni é uma Yalorixá, mãe de santo, responsável pelo Centro Africano Nosso Senhor dos Passos, no bairro Santo Afonso. É uma das primeiras moradoras do bairro, localizado em Novo Hamburgo.

Conforme pontua Mattos, suas semelhanças são a raça, o gênero e a classe. Ambas passaram por dificuldades na enchente de maio de 2024 e convivem com as ocupações pela moradia em seus bairros. Elas contam as histórias de preconceito enfrentadas por serem pobres e negras, mas também as histórias de empoderamento através das suas representatividades em suas comunidades.
“Dividem o mesmo território: a periferia do Vale dos Sinos e sofrem a mesma questão, de terem suas histórias apagadas por um processo de colonização germânica que perdura ainda hoje, fazendo com que as pessoas negras, pardas e pobres sejam invisibilizadas na região. Talvez o que mais una elas seja essa garra para lutar por uma vida melhor, para fazer o bem a sua comunidade e representar as mulheres comunitárias.”
Segundo afirma a diretora a sessão de estreia da série Territórios do Sinos será, propositalmente, em uma ocupação, para que as pessoas da luta pela moradia e outros moradores do bairro possam assistir.
“Pensamos do início ao fim na descentralização desse projeto e como pessoas que nunca se enxergam na cultura poderão se sentir representadas e ter acesso a um produto cultural. Espero que a série possa ter continuidade, assim como a Lei Paulo Gustavo, para que mais pessoas consigam mostrar o seu trabalho e expor diferentes narrativas que contam a real história do povo gaúcho”, finaliza.
A equipe do filme conta com os produtores audiovisual Lucka Lemos e Bia Cremonini, o cineasta Victor Lucas, a bolsista Vanessa da Silva Maia e Marco Rosa Rodrigues, na trilha sonora.
A série também terá exibição em Novo Hamburgo, no dia 30 de maio, na Associação e Ponto de Cultura Casa da Praça (Rua Cacequi, 19, Boa Vista), às 19h – sessão com acessibilidade e às 20h, sessão geral.

