Na noite de quarta-feira (21), o assassinato de dois funcionários da embaixada israelense em Washington, nos Estados Unidos, escancarou a assimetria com que a imprensa hegemônica trata da disputa entre Israel e Palestina.
O ocorrido ocupou as manchetes de jornais de todo o mundo, do The Guardian ao Clarín, da Folha de S.Paulo ao El País. Emissoras de televisão dedicaram preciosos minutos para Israel pedir apoio em sua campanha militar na Faixa de Gaza.
Isso tudo ocorreu na semana em que a média de assassinatos cometidos por Israel em Gaza superou os 50 palestinos por dia, sendo a maioria mulheres e crianças. Esse número se refere apenas a bombas, sem contar os mortos por doenças, por falta de hospitais – os militares israelenses vêm alvejando geradores de energia dos hospitais para inviabilizá-los – os de fome. Conforme a ONU, desde março, 57 bebês foram mortos de fome por Israel. Sim, o país alardeado pela grande imprensa como “a única democracia do Oriente Médio” mata bebês de fome.
Mas esses dados não ocupam muito espaço na chamada “grande imprensa”. Obviamente, concordamos que todo assassinato é condenável e condenamos o dos representantes israelenses nos Estados Unidos. Assim como o de dezenas – ou centenas – de palestinos a cada dia, mas estes não são lembrados por essa imprensa que pratica a indignação seletiva quando o assunto é o conflito israelo-palestino e mostra, com suas ações, que considera mortes de israelenses mais merecedoras de atenção do que a de palestinos.
Nos mais de 20 anos cobrindo jornalismo internacional, me acostumei a ver isso. Atualmente, entretanto, a inversão de valores se mostra ainda mais forte para controlar a narrativa e justificar o injustificável roubo de terra palestina, tanto em Gaza como na Cisjordânia e em Jerusalém.
O genocídio praticado por Israel se aproveita ainda da fadiga natural que acomete qualquer um, exaustos e anestesiados que estamos de ver tanta violência, tantas barbaridades impunes, uma crueldade sem limites que esgota as palavras, já incapazes de as descrever. E o assunto acaba relegado a notas escondidas em cantos obscuros dos sites de notícia.
Não no Brasil de Fato. Desde outubro de 2023, não deixamos de denunciar o que acontece, sempre com a excelência jornalística que nos guia. Esse rigor nos fez aguardar semanas para assumir que o que acontece em Gaza é um genocídio, termo que adotamos no final do primeiro mês, após muita discussão interna e análise fria das ações israelenses. Toda essa cautela foi motivada por sabermos que dados e fatos – inquestionáveis pelos que estão do outro lado ideológico – são argumentos mais convincentes do que levantar a voz e contribuir para a cacofonia, que só beneficia o opressor.
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