O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, nomeou nesta segunda-feira (26) o primeiro embaixador colombiana na Palestina. O representante da diplomacia será Jorge Iván Ospina, ex-senador e ex-prefeito de Cali e uma pessoa próxima ao mandatário. A medida foi tomada um ano depois de Bogotá romper relações com Israel tendo como base os ataques israelenses à Faixa de Gaza.
Ospina também é filho de um comandante da extinta guerrilha Movimento 19 de Abril (M-19), grupo que teve Petro entre seus integrantes nos anos 1980. Até o momento, não foi definido se o trabalho da embaixada será da Cisjordânia ou de algum país vizinho. Em entrevista à AFP, ele disse que o país ainda vai avaliar com Israel a possibilidade de abrir a representação em Ramallah, cidade na Cisjordânia.
“Teremos que discutir e estabelecer os procedimentos necessários com Israel para tornar possível o estabelecimento da embaixada colombiana em Ramallah. Nós, como país, reconhecemos o Estado palestino. Reconhecemos que o Estado palestino e o Estado israelense devem coexistir”, afirmou.
Petro adotou uma postura de denúncia dos ataques israelenses na Faixa de Gaza desde o início do conflito. Logo depois do começo da ofensiva de tropas de Israel na região, o mandatário colombiano passou a ameaçar romper relações com Israel.
Primeiro, chamou os ataques de “genocídio”. Depois, suspendeu a compra de armas de Israel. E por último, em discurso no 1º de maio, anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre Colômbia e Israel por conta do massacre cometido contra os palestinos.
Ele também sugeriu que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deve ser preso pelos avanços de tropas israelenses na Faixa de Gaza. De acordo com o colombiano, o Tribunal Penal Internacional poderia emitir um mandado de prisão contra o israelense e o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) deveria “começar a considerar a criação de uma força de manutenção de paz” na região.
Em junho de 2024, Petro recebeu o Grande Colar do Estado da Palestina por sua defesa aos palestinos e sua posição contundente contra os ataques israelenses na Faixa de Gaza. A condecoração é a maior homenagem que o governo autônomo da Palestina pode oferecer para uma autoridade estrangeira.
Dois meses depois, o presidente proibiu as exportações de carvão do país para Israel por causa das ações genocidas israelenses contra os palestinos desde outubro de 2024 na Faixa de Gaza.
Aliados históricos
Colômbia e Israel sempre tiveram alianças muito fortes mesmo antes dos conflitos com guerrilhas no país sulamericano. Os colombianos foram um dos países que se abstiveram na votação de 1947 na ONU, que tinha como objetivo resolver o conflito entre palestinos e israelenses. Aquele momento foi determinante para a criação do Estado de Israel.
A Colômbia então estabeleceu embaixada em Tel Aviv nos anos 1960, mas criticou, em algumas ocasiões, as ocupações israelenses em territórios palestinos.
Os dois países, porém, não foram só aliados históricos entre si, como pontos fundamentais para a atuação dos Estados Unidos na América do Sul e Oriente Médio. Em 1999, os EUA iniciam o Plano Colômbia, que tinha como objetivo ampliar o “combate à insurgência”. Os estadunidenses investiram US$ 1 bilhão (R$ 5 bi) em 2000, triplicando seu orçamento e representando 80% da assistência militar para toda a América Latina.
Essa relação se intensificou no governo de Álvaro Uribe, eleito em 2002, quando a Colômbia passou a fazer parte da “guerra global contra o terrorismo” encabeçada pelos EUA. O país sulamericano pisou no acelerador na disputa contra as guerrilhas e passou a classificar esses grupos como “organizações terroristas”.
Neste momento, a participação militar israelense nos conflitos armados colombianos deixa de ser sigilosa para ser comercial. Entre 2002 e 2006, a importação de armamentos israelenses duplicou na Colômbia. Hoje, esse comércio arrefeceu. Segundo a plataforma de dados de comércio da Organização das Nações Unidas (ONU) Comtrade, Israel exportou cerca de US$ 138,8 milhões em produtos para a Colômbia em 2022. Desses, apenas US$ 283 mil foram de armas, munições e acessórios.
O único governo que se diferenciou dessa política foi Juan Manuel Santos, que reconheceu em 2016 o Estado da Palestina.