“Só conseguimos avançar no debate da dignidade menstrual se o transformarmos em política pública.” A afirmação é de Nívea Marques Monteiro, coordenadora do Marias – Coletivo de Mulheres da Educação de Maracanaú, no Ceará. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta-feira (28), Dia Internacional da Dignidade Menstrual, ela ressaltou a importância de programas como o Dignidade Menstrual, do governo federal, mas destacou que ainda há um longo caminho pela frente.
Criado em 2023, o programa garante a distribuição gratuita de absorventes para estudantes da rede pública e para pessoas inscritas no CadÚnico. Para Monteiro, o impacto vai além do acesso aos insumos. “Foi fundamental, tanto para a distribuição dos absorventes, mas também para ampliar o debate”, pontua. Ela lembra que, dois anos após a criação da iniciativa, o tema vem ganhando espaço, mas ainda falta formação e naturalização do assunto nas escolas e na sociedade.
Desde 2018, o coletivo Marias realiza ações de arrecadação e distribuição de absorventes em comunidades vulneráveis de Maracanaú. A mobilização contribuiu para que, em 2023, o município também implementasse um programa próprio de saúde menstrual. Ainda assim, Monteiro acredita que o papel do coletivo deve continuar a ser o de cobrança e vigilância. “É importante a cobrança da política pública para que a gente tenha, de fato, equidade de gênero e justiça social”, destaca.
Menstruação: desigualdade e tabu
A educadora também aponta que a pobreza menstrual escancara desigualdades mais profundas no Brasil. “Estamos falando de um país extremamente desigual, onde boa parte da população ainda não tem acesso a saneamento básico”, afirma. “Cerca de 713 mil meninas não têm acesso a chuveiro ou banheiro, e 4 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a itens básicos de higiene”, diz, citando dados do Ministério da Saúde.
Para Monteiro, é urgente ampliar o vocabulário e o entendimento sobre o tema, incluindo pessoas trans e não binárias no debate. “Temos que falar de todas as pessoas que menstruam”, defende. “Menstruação ainda é tabu, que não foi superado. As pessoas não falam a palavra. Dizem que estão ‘naqueles dias’. E isso não é só vocabulário. É impacto direto na vida das pessoas”, salienta.
Segundo a educadora, o silêncio sobre o tema compromete também o acesso à informação sobre higiene, sexualidade e prevenção. “A escola é fundamental. Precisamos conversar com os estudantes, naturalizando o que é natural. Porque se não tratamos com naturalidade, vira motivo de bullying. E as meninas ainda sofrem”, relata.
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