Você não precisa nem morar em Curitiba, apenas passar pela cidade, para cruzar com algum dos canteiros de obra do tal Novo Inter 2. O projeto megalomaníaco começou oficialmente em novembro de 2023 e, ao custo de pelo menos meio bilhão de reais, prevê melhorar a pavimentação, drenagem, calçadas, iluminação, paisagismo e estruturas de apoio viário “em pontos estratégicos do percurso das linhas Inter 2 e Interbairros II” localizados em 28 bairros da capital. A ideia é criar um grande corredor exclusivo para as linhas – uma grande “canaleta em círculo”.

“Recentemente das intermináveis obras do Inter 2 na tribuna da Câmara Municipal de Curitiba em duas ocasiões: primeiro durante um debate sobre combate à corrupção, quando cobrei mais transparência e comunicação sobre as obras públicas, e, na última segunda-feira (26) ao citar a rescisão do contrato do Lote 1 da obra, que passa pelos bairros Santa Quitéria, Seminário, Campina do Siqueira, Vila Izabel e Portão.
Há mais de ano venho fazendo cobranças relacionadas a esse projeto. Acompanho a novela desde o começo. Eu mesma chamei a atenção, lá no início de 2024, antes sequer de ser eleita, sobre o fato de que o projeto previa o corte de mais de 200 árvores na Avenida Arthur Bernardes. Com muito esforço, pouco a pouco, a sociedade civil foi conseguindo, à fórceps, informações sobre o projeto. Cabe apontar que todos esses projetos deveriam ter sido amplamente debatidos com a população antes de sequer terem começado a cavar um mísero buraco ou cortar uma única árvore.
Neste momento, o rastro de caos deixado pelas obras afeta não só os bairros do Lote 1, mas muitos outros. Prazos não cumpridos e qualidade de obra questionável são os principais pontos de reclamação da população. A rescisão do contrato veio após dezenas de notificações por parte da Prefeitura à empreiteira, que vinha realizando um trabalho pífio, atrasado e de baixa qualidade. Encerrar o contrato, nesse ponto, era obviamente necessário e acertado diante do cenário de terror que o processo estava imerso.
O fato é que o cenário da obra é chocante. Buracos profundos cavados, nenhuma pessoa trabalhando, canos vazando ao lado de hospitais e bueiros abertos sem qualquer segurança. É uma situação tão assustadora que não sabemos se a rescisão é uma notícia somente ruim, porque temos a certeza de um contrato público assinado com uma empresa incapaz de cumpri-lo, ou se é uma notícia péssima, diante das dúvidas sobre quando finalmente as obras serão concluídas. Vários curitibanos me mandaram mensagens temendo uma “Nova Linha Verde”.
O atual Secretário Municipal de Obras, Luiz Fernando Jamur, que foi Secretário de Governo e Presidente do IPPUC na gestão anterior, amplamente envolvido em todo o planejamento estratégico dessa grande obra desde sua concepção, tem reiterado que a obra milionária reduzirá o tempo de viagem de quem pega o Inter 2 em até 30 minutos. Porém, tal economia de tempo considera o percurso inteiro… Fica, então, o questionamento: quem faz o percurso inteiro de uma linha que faz, literalmente, um círculo? Quem sai de um ponto e volta pro mesmo lugar? Quando assinados, os contratos das obras do Inter 2 eram de responsabilidade do IPPUC, via UTAG (Unidade Técnico-Administrativa de Gerenciamento). Com a dança das cadeiras do secretariado, a mesma UTAG foi remanejada para a Secretaria de Obras. Mudou o lugar, permaneceu o chefe. Um círculo fechado, assim como o percurso feito pelo ônibus.
Desde o início do mandato, toda semana cidadãos me procuram com reclamações e pedidos de intervenções sobre as obras do Inter 2. Já fizemos uma série de requerimentos e de pedidos de informação, propondo melhorias no processo e tentando trazer esclarecimentos à população. Diante da recente rescisão de contrato, novas perguntas precisam ser feitas: o que a Secretaria de Obras fará para evitar que os mesmos problemas do Lote 1 aconteçam com os demais lotes e com as outras grandes obras em licitação na cidade, como o Ligeirão Leste-Oeste? Como e por que empresas sem condições de atender às demandas estão sendo contratadas? Qual o cronograma de cada lote de obras? Quanto já foi feito? E a pergunta do milhão: quando acaba? O povo curitibano precisa saber.
O fato é que o que o povo já sabe é o transtorno que essas obras intermináveis causam. Moradores que não conseguem entrar e sair de casa, idosos, famílias com crianças pequenas que não conseguem andar por não terem uma calçada digna, comerciantes arcando com os custos da incompetência do poder público, perdendo dinheiro e correndo o risco de terem que fechar as portas. Sem falar no massacre ambiental em alguns trechos de obra, com árvores soterradas e cortes feito pelas empreiteiras sem licença ambiental adequada.
Já convidei e reitero: o Secretário Municipal de Obras Públicas precisa ir à Câmara Municipal prestar esclarecimentos sobre o “Novo Inter 2”. Má comunicação com a sociedade, representada pela Câmara Municipal, são um indicativo terrível de que as obras do Inter 2 sejam um remake da novela das obras da Linha Verde. Esta vereadora e diversos cidadãos curitibanos esperam respostas.”
*Laís Leão, eleita vereadora de Curitiba pelo PDT para seu primeiro mandato na Câmara de Curitiba. É vice-líder do PDT e vice-presidente da Comissão de Urbanismo. É arquiteta e urbanista, graduada pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), mestre em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e doutoranda em Gestão Urbana pela mesma instituição.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.