A criação do Dia Marielle Franco, aprovada nesta segunda-feira (26) pela Câmara dos Deputados, foi celebrada como uma vitória contra o apagamento da memória da vereadora assassinada em 2018 e dos defensores de direitos humanos. A data, fixada para 14 de março, dia que marca a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, segue agora para votação no Senado.
“A aprovação desse dia é uma vitória contra o apagamento”, comemora Luyara Franco, filha de Marielle e diretora do Instituto Marielle Franco, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Todo dia tem alguma forma de tentar acabar com a memória da minha mãe e com a nossa, dos defensores. O dia, inclusive carregando o nome dela, fala não só sobre o passado, mas sobre o presente e o futuro”, diz.
O projeto de lei é de autoria do ex-deputado David Miranda, falecido em 2023. Para Luyara, o simbolismo da proposta também se estende ao autor, “amigo fiel” da mãe. “Era um homem preto, favelado, gay, que faz esse projeto. A data tem um simbolismo enorme para todos nós, defensores”, destaca.
‘Polarização enfraquece direitos humanos’
A iniciativa também prevê a promoção de ações para a valorização e proteção de defensores dos direitos humanos. Segundo relatório Na Linha de Frente, elaborado por Justiça Global e Terra de Direitos, três defensores foram assassinados por mês no Brasil entre 2019 e 2022.
Luyara aponta o cenário de polarização como um dos entraves para o reconhecimento dos direitos humanos. “Desde 2018 vemos o crescimento da polarização, onde defender a vida, o próximo e os direitos básicos ainda é visto por muitas pessoas como algo ruim. Vamos defender sempre a vida e os direitos das pessoas, das minorias”, afirma.
O Instituto Marielle Franco atua hoje com três eixos principais: valorização da memória, enfrentamento à violência política de gênero e raça, e fortalecimento de lideranças.
‘Celebramos condenação dos executores, agora queremos a dos mandantes’
A diretora também comentou o andamento das investigações sobre o assassinato de Marielle. Em 2023, os executores do crime foram condenados, mas os processos que envolvem os mandantes seguem no Supremo Tribunal Federal (STF). Estão entre os réus os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, além do ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa.
“Celebramos a vitória que foi a condenação dos executores. Agora, nossas forças giram para os mandantes. Acompanhamos tudo de perto, em diálogo com a Defensoria, os advogados e os promotores. Seguimos com esperança de que o julgamento ocorra o quanto antes. Se Deus quiser, esse ano”, conta.
Por fim, Luyara destacou a importância de manter viva a memória e a luta de Marielle, citando também a recém-lançada Escola Marielle de Comunicação. “Coragem e luta é o que nos move, o que move o instituto. Estamos num trabalho de comunicar às pessoas o quão importante é pensar no futuro, no presente, na valorização da memória e no trabalho com os defensores.”
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.