A duplicação da capacidade de bombeamento de água no projeto de transposição do rio São Francisco deve beneficiar 8,1 milhões de pessoas em 237 municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A obra, que recebeu ordem de serviço assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nessa quarta-feira (28), em Salgueiro (PE), vai dobrar a capacidade de bombeamento em três estações elevatórias localizadas em Pernambuco: a EBI-1, em Cabrobó, e as EBI-2 e EBI-3.
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Após a conclusão do projeto, a capacidade de bombeamento das estações será ampliada de 24,75 metros cúbicos por segundo para 49 metros cúbicos por segundo. O investimento é de R$ 491 milhões. O ministro Waldez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional, afirmou que “a duplicação do bombeamento é o coração [da transposição] batendo mais forte”. “É o Estado brasileiro dizendo que não vai permitir que o Nordeste viva sob a incerteza da estiagem”, completou.
Góes pontuou que, além das obras referentes à transposição do São Francisco, há outras 70 obras voltadas para a segurança hídrica em andamento na região Nordeste, sendo 30 delas de grande porte, como adutoras, barragens, canais e reservatórios. “Elas somam R$ 12 bilhões, verba já assegurada pelo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], garantindo que não faltará dinheiro para elas até que estejam todas prontas”, pontuou Waldez Góes. “Lula nunca admitiu a condenação à fome, à terra seca e ao gado magro”, emendou.
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Em discurso mais breve que o comum – segundo ele, por estar com fome -, o presidente Lula (PT) disse que o Governo Federal “fez a primeira parte da obra, que é fazer a água chegar na cidade. Agora cabe aos prefeitos e governadores fazer a água chegar nas casas das pessoas. Quero ver chegar água tratada e com qualidade nas torneiras. Quero ver chegar no pequeno agricultor, que não tem dinheiro para bomba e motor”, cobrou Lula, sob aplausos das milhares de pessoas que assistiam à cerimônia, entre as quais dezenas de prefeitos.
Lembrando a história do projeto da transposição, cujo primeiro esboço data de 1846, há 179 anos, ainda sob o império de Dom Pedro 2º, Lula disse que resolveu tirá-lo do papel “não foi para fazer piscina de ondas para granfinos surfar como vemos na TV, nem para fazermos praias para turistas estrangeiros”. “Essa obra foi para algo muito mais simples e sagrado, que é para garantir água para os 12 milhões de pessoas que vivem no Semiárido brasileiro.”
“Eu sei o que é pegar água no açude sujo, esperar assentar para não beber água com caramujo ou fezes de animais”, afirmou Lula, lembrando sua infância no distrito de Várzea Comprida, no Agreste do estado.

Waldez Góes afirmou que “a história do Sertão está dividida entre antes de Lula e depois de Lula. Água, saúde, educação, renda mínima e crédito se juntam para possibilitar mais qualidade de vida”. O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), disse que o povo nordestino tem uma dívida com Pernambuco, por ter o estado dado ao Brasil “o maior presidente da história”.
“Precisava um filho do Sertão pernambucano tirar essa obra do papel e fazer a água chegar à Paraíba, ao Rio Grande do Norte, Ceará, até Fortaleza. (…) Quem já passou sede, fome e desesperança, com Lula tem água, trabalho e vida melhor”, disse o cearense.
Raquel Lyra agradece e pede empréstimo
A governadora Raquel Lyra (PSD), natural de Caruaru, também na região semiárida do estado, propagandeou as ações da sua gestão. “Estamos fazendo o maior investimento em obras hídricas da nossa história. São R$ 6 bilhões no programa Águas de Pernambuco, construindo adutoras, barragens, sistemas simplificados e trocas de tubulação. E estamos buscando mais dinheiro, empréstimos. Para levar água a todo o povo do nosso estado, precisamos de R$ 30 bilhões”, avaliou Lyra.
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A governadora contou de uma mãe que deixara de enviar os filhos à escola por não ter água para o banho das crianças. “Não é normal que no século 21 a gente continue vendo tantas mulheres carregando baldes d’água na cabeça para levar água para casa. É preciso muita vontade e decisão política para mudar o rumo dessas histórias – e o senhor teve essa coragem”, disse Lyra a Lula.
Ela agradeceu a atenção do presidente da República com Pernambuco. “Você está aqui mais uma vez, reafirmando o seu compromisso com o povo do Sertão. O seu time tem se desdobrado para chegar em cada lugar do Nordeste”, elogiou.
Transnordestina
O prefeito de Salgueiro, Fabinho Lisandro (PRD), disse que o povo do Sertão se beneficia do governo Lula. “A água chegará para todos. Só um presidente com a sensibilidade do senhor poderia fazer isso”, afirmou. O gestor municipal agradeceu ao campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco a ser construído em Salgueiro e fez um pedido ao Governo Federal.
“Queremos a construção de um porto seco da [ferrovia] Transnordestina aqui, para Salgueiro participar da interligação entre o Nordeste e a América do Sul”, cobrou. Lula respondeu que tem compromisso em fazer a ferrovia. “Miguel Arraes me pediu em 1989”, lembrou. A ferrovia deve ligar o Centro-oeste brasileiro aos portos de Suape (Pernambuco) e Pecém (Ceará).
R$ 10 bilhões para atrair indústrias
Durante a cerimônia também foi assinada a publicação de um edital de fomento à instalação de indústrias no Nordeste, fruto de parceria entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste, Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Consórcio de governos do Nordeste.

O edital disponibiliza até R$ 10 bilhões de crédito para empresas e cooperativas realizarem planos de negócios e investimentos estratégicos na região Nordeste que se enquadrem no programa Nova Indústria Brasil (NIB), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) em parceria com o BNDES. Se enquadram nos critérios projetos de fortalecimento da agricultura familiar, investimentos em hidrogênio verde, data centers verdes e outros projetos que propõem desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental.
Legado de Bolsonaro
O ministro da Integração ironizou as tentativas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de se apresentar como autor da transposição. “Lula começou a obra em 2007 e até o fim do governo Dilma [2016] já estava 90% feita. Quando voltamos [em 2023] encontramos bomba quebrada, trechos há anos sem manutenção e não havia um real para obras hídricas no Nordeste”.
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Lula chega ao Recife para entregar habitacionais e assinar indenização a moradores de prédios caixão
O presidente Lula foi além e brincou sobre o legado do antecessor. “Dou dois minutos para alguém me dizer uma obra que o governo passado fez em Pernambuco. Tem? A gente não pode votar em qualquer tranqueira para governar esse país. Tem que ser gente com compromisso”, cobrou.
Jogando em casa
Esta foi a 5ª visita de Lula (PT) ao seu estado natal neste 3º mandato presidencial. A vinda anterior aconteceu em julho de 2024, quando entregou dois habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida, atendendo a 448 famílias, na Ilha de Joana Bezerra, centro do Recife, e assinou o acordo de indenização entre a Caixa Econômica Federal e moradores dos edifícios caixões da Região Metropolitana do Recife.
Antes, o presidente entregou uma etapa da Adutora do Agreste (em Arcoverde), a Fábrica da Hemobrás (em Goiana), lançou o Sistema Nacional de Cultura (no Recife), assinou a ordem para ampliar a capacidade de refino da Refinaria Abreu e Lima (em Ipojuca) e lançou (no Recife) o novo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), voltado para o fortalecimento da agricultura familiar e da segurança alimentar na área urbana.
No estado, os dois principais grupos políticos têm se agrupado em torno do prefeito do Recife, João Campos (PSB), provável candidato ao governo do estado em 2026; e da governadora Raquel Lyra (PSD), candidata à reeleição e que abandonou o PSDB para poder conseguir se colocar como “base” do governo Lula. Há ainda um agrupamento bolsonarista, que hoje está sob o guarda-chuva de Lyra. O PT tem mantido boa relação com Campos e Lyra. Uma 3ª candidatura confirmada ao governo de Pernambuco é a do ex-vereador Ivan Moraes (Psol), que também apoia o governo Lula.
