Um encontro entre a arte e histórias invisíveis marca o curta-metragem documental Vidas Peregrinas, que terá seu lançamento na próxima segunda-feira (2), às 18h, no CineBancários, no centro de Porto Alegre, em sessão para convidados. A obra traz à tona trajetórias de pessoas em situação de rua a partir de uma oficina de música conduzida pelo artista Santiago Neto na sede da Associação Intercomunitária de Atendimento Social (Aicas), na capital gaúcha.

Dirigido por Fredericco Restori, Luiz Alberto Cassol e Natália Pimentel – que também assina o roteiro –, o documentário apresenta depoimentos marcados pela emoção e pela força de quem encontrou, nos acordes, uma forma de resistir e recomeçar. A trilha sonora original é de Santiago Neto, e o argumento é de Arlene Lopes.
“Foi um processo único dirigir e produzir o filme com a Natália Pimentel e com o Fredericco Restori, com quem trabalho em outras produções também. Nós três somos fãs e amigos do músico Santiago Neto e esse projeto que ele faz com pessoas em situação de rua, por meio da música, é algo lindo, solidário e transformador”, afirma Cassol ao Brasil de Fato RS.

Segundo ele, o convite feito pelo Instituto Koinós e pela Aicas para a realização do curta completou o sentido do projeto. “Queríamos dar visibilidade para as pessoas em situação de rua. Escutar muito, dialogar de forma concreta e refletir sobre essa situação. E o trabalho do Koinós, da Aicas e do Santiago Neto fazem esse elo que nós estávamos buscando.”
Cassol destaca ainda a expectativa em torno da estreia. “Estamos muito felizes com o resultado final e com uma expectativa grande com o lançamento, porque queremos ver como nossos protagonistas irão receber e também como o público verá nossa proposta de narrativa. Esse filme é necessário, é urgente e estamos coletivamente juntos e juntas por uma causa.”
Ao Brasil de Fato RS, o músico Santiago Neto conta que o curta é resultado de uma oficina, de uma experiência que teve durante dois anos na Aicas com pessoas em situação de rua. “Era uma oficina de música, mas, mais do que aulas, eram encontros de humanidades. Uma vez por semana, essas pessoas iam lá, se encontravam para cantar, pra se sentir bem, pra gente se olhar bem, se abraçar, tocar um instrumento”, relembra.
Para ele, o filme nasceu como um registro de um processo coletivo e afetivo. “A vida dessas pessoas é muito diversa, muito efêmera. Estão aqui agora, amanhã podem estar em outro lugar, em um abrigo, ou já se recuperaram. O curta é esse registro precioso de dois anos de encontros que foram muito legais”, explica o artista. “A equipe de gravação entendeu muito bem esse processo, que era mais sobre olhar no olho e dizer: ‘tu és importante, volta semana que vem, vou te esperar aqui’.”
Segundo Santiago, o vínculo criado com os participantes da oficina ultrapassou o espaço da arte. “Cresceu uma amizade muito legal entre mim e os usuários que participavam. Esse curta agora é um registro importante, não só para mim, mas para todos que passaram por ali. Segunda-feira vai ser um reencontro no CineBancários. E o audiovisual tem esse poder, a arte, de um modo geral, fica impressa na alma das pessoas quando se vive um momento como esse.”
Um filme sobre dignidade e o poder da arte
Para os idealizadores, Vidas Peregrinas propõe uma escuta generosa às histórias que geralmente passam despercebidas. “Ao revelar os sons e silêncios de uma população marcada pela invisibilidade, o filme fala sobre dignidade, pertencimento e a potência transformadora da arte. Trata-se de um convite a olhar para o outro – e para si mesmo – sob uma nova perspectiva.”

Com apoio cultural da Aicas e do Instituto Koinós, Vidas Peregrinas é uma realização das produtoras Filmes de Junho e Oito e Meio Filmes. A captação das imagens ocorreu entre os anos de 2023 e 2025, durante os encontros musicais promovidos por Neto. Mais do que aulas, as oficinas se transformaram em espaços de convivência, afeto e reconstrução subjetiva, onde os participantes puderam compartilhar experiências e sentimentos por meio da música.
