O representante da Frente Polisario no Brasil, grupo que representa a luta pela autodeterminação do povo da República Árabe Saaraui Democrática, conhecida como Saara Ocidental, não vê apoio do Reino Unido ao lado marroquino da disputa. No final de semana, o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, visitou o Marrocos e fez acenos às proposta de Rabat.
Nesta terça-feira, Lammy disse ao Parlamento britânico que “enquanto estive em Marrocos, anunciei o apoio do Reino Unido à proposta de autonomia de Marrocos como a base mais crível, viável e pragmática para uma solução para o conflito”. No entanto, ao Brasil de Fato, o diplomata Saaraui Ahmed Mulay Ali Hamadi ressalta que, o texto oficial emitido pela chancelaria britânica fala em “solução acordada por ambos os lados” do conflito.
“Como membro do Conselho de Segurança da ONU e amigo dos países da região, a nova postura do Reino Unido busca apoiar uma solução mutuamente consensual para o conflito que respalde o processo conduzido pela ONU e respeita o princípio de autodeterminação”, disse Hamadi.
“Antes do 50º aniversário do conflito, é fundamental que aproveitemos esta oportunidade para lograr uma solução duradoura para a disputa e que ofereçamos um futuro melhor ao povo do Saara Ocidental.”
Dubiedade conveniente
O trecho do comunicado britânico diz que tanto o Reino Unido como o Marrocos “apoiam e consideram vital o papel central do processo liderado pela ONU para unir as partes e levar a questão adiante, a fim de alcançar uma solução política justa, duradoura e mutuamente aceitável, e reafirmam seu total apoio aos esforços do Enviado Pessoal do Secretário-Geral da ONU, Sr. Staffan de Mistura. Para tanto, o Reino Unido está pronto, disposto e comprometido a prestar seu apoio ativo e engajamento ao Enviado Pessoal e às partes para que se alcance uma solução para esta disputa.”
No entanto, de forma dúbia, o comunicado britânico afirma que “o Reino Unido, ao encorajar as partes relevantes a se envolverem, urgente e positivamente, no processo político liderado pela ONU, considera a proposta de autonomia de Marrocos, apresentada em 2007, como a base mais confiável, viável e pragmática para uma resolução duradoura da disputa”.
Hamadi afirma que o Reino Unido diz que a proposta marroquina seria “apenas uma base para negociação, mas há também a apresentada pela Frente Polisario, e ambas devem ser apresentadas ao povo saarauí para que este escolha a que melhor lhe convier”.
“Só há uma maneira de resolver este conflito: o direito do povo saarauí à autodeterminação. A posição do Reino Unido não sofreu a mudança que Marrocos deseja.”
Contexto
Em 1976, o Marrocos assumiu o controle do Saara Ocidental após a retirada das tropas espanholas. A Frente Polisário autoproclamou a República Árabe Saarauí Democrática (RASD), iniciando um conflito que durou até 1991, quando um cessar-fogo foi assinado com a mediação da ONU.
Ficou acordado um referendo sobre a independência ou controle marroquino, mas ele nunca ocorreu. Em 2020, a Frente Polisário retomou a luta armada após ações militares marroquinas. A ONU estima que o conflito deslocou pelo menos 173 mil pessoas, que vivem em campos de refugiados na Argélia.
