“A gente nunca deve subestimar a capacidade de resiliência do capitalismo estadunidense”, alertou o analista Giorgio Schutte, coordenador do Observatório de Política Externa Brasileira (Opeb) da UFABC. Em análise nesta quarta-feira (4) transmitida pela Alba Movimientos, Schutte colocou em perspectiva as análises sobre o declínio do império estadunidense e afirmou que não há como afirmar que este seja o atual cenário.
Ele lembrou que o mesmo diagnóstico foi feito em 1979, quando o mundo presenciou as revoluções no Irã e na Nicarágua, e o crescimento exponencial da economia japonesa. Eleito naquele contexto, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, criou o slogan Make America Great Again (Maga) e anunciou que iria negociar no cenário internacional a partir de uma posição de força. Reagan implantou o que Schutte classifica como uma hegemonia 2.0 dos EUA e Trump adota as mesmas políticas em busca de uma hegemonia 3.0.
“No século 21, as guerras no Iraque e no Afeganistão e sobretudo a crise financeira de 2008 representaram o fim da hegemonia 2.0. Foi nesse momento que surge a cúpula do G20 e o Brics” explica Schutte. A busca por uma hegemonia 3.0 teria começado ainda durante a gestão do democrata Barack Obama e continuou durante o governo de Joe Biden.
“Biden tinha um projeto de começo, meio e fim. Mas não tinha liderança nem no próprio partido e não tinha capacidade para enquadrar os interesses e as forças neoliberais. Trump é mais preparado e mais agressivo. É um consenso na sociedade dos EUA eles querem permanecer na liderança global e para isso é essencial impedir o crescimento da China, o debate é sobre como fazer isso.”
O posicionamento de enfrentamento da China foi explicitado pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, em uma fala no Shangri-La Dialogue de Singapura, o maior fórum sobre segurança e defesa do continente na última semana. “A ameaça que a China apresenta é real e pode ser iminente”, assegurou Hegseth.
O orçamento em Defesa dos EUA para 2026, anunciado por Hegseth, chegará pela primeira vez a US$ 1 trilhão (R$ 5,6 tri) e prevê, entre outros projetos, o Golden Dome, escudo aéreo contra mísseis, semelhante ao utilizado hoje por Israel.
“O secretário de Defesa dos EUA deixou claro que o objetivo é ser um líder mundial para as próximas gerações e para isso precisa expulsar a China de áreas estratégicas da América Latina. O objetivo é reforçar sua presença militar, reforçar suas alianças e parcerias no Indopacífico.”