“Peço, com muita esperança, Sr. Prefeito, que o senhor repense o fechamento, o despejo do ‘Teatro de Contêiner Mungunzá’, na Rua dos Gusmões, 43”. É assim que a atriz Fernanda Montenegro começa uma carta enviada ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e publicada em suas redes sociais na noite da última terça-feira (10).
“Trata-se de uma companhia de teatro altamente criativa. São 17 anos de atividades. Mais de 4.000 projetos realizados, tendo como base esta sede nesse bairro. É uma companhia teatral fundamental em São Paulo e no Brasil. O ‘Teatro de Contêiner Mungunzá’, permanecendo nesse endereço na cidade de São Paulo, é um sinal de renascimento desse bairro. Um espaço de comunhão humana”, argumenta a atriz de 95 anos.
No último 28 de maio, os artistas da Cia de Teatro Mungunzá receberam uma notificação extrajudicial da prefeitura, dando 15 dias para que se retirem da área. Em dias corridos, o prazo teria vencido na última terça, mesmo dia em que Fernanda Montenegro fez o apelo público.
Abandonada por anos, a área de propriedade do município na região da Luz foi ocupada pelo coletivo em 2016. Com 11 contêineres montados no espaço, o teatro foi vencedor e indicado a prêmios nacionais e internacionais.
O terreno também é sede do coletivo Tem Sentimento que, com doações e geração de renda por meio da costura, atua há cerca de sete anos com mulheres, pessoas trans e imigrantes da região da Cracolândia. Atualmente, o grupo atende aproximadamente 70 pessoas.
A resposta da prefeitura
Na descrição do seu post no Instagram, Fernanda Montenegro divulgou a resposta que teria recebido da prefeitura de São Paulo, em nome do secretário de governo Edson Aparecido. “Governo do Estado e Prefeitura ofereceram locais para instalação do Teatro com doação de área definitiva. As negociações continuam”.
Na nota extrajudicial, a administração municipal diz que a área em disputa é “um ponto estratégico para que seja instrumentalizado um novo programa habitacional municipal”.
Em resposta, os coletivos que ocupam o terreno argumentam que são a favor de moradia digna para a população pobre e que há diversos imóveis ociosos no centro que podem ter esse destino. Em campanha pela permanência em reuniões e audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o coletivo de artistas lançou a campanha #TeatroFica.