O ato bolsonarista deste domingo (29) contabilizou um público quase quatro vezes menor do que o registrado na última manifestação de Jair Bolsonaro (PL), também na avenida Paulista, na região central de São Paulo, em 6 de abril. Cerca de 12,4 mil pessoas foram manifestar apoio ao ex-presidente neste fim de semana, com uma margem de erro de 1,5 mil para mais ou para menos, de acordo com o Monitor do Debate Político do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e a ONG More in Common.
Há dois meses, a manifestação de Bolsonaro mobilizou 44,9 mil pessoas, o que coloca o público deste domingo em um patamar 72,3% menor. De acordo com a plataforma, a contagem foi feita no momento de pico da manifestação, às 15h40, a partir de fotos aéreas analisadas com software de inteligência artificial.
Márcio Moretto, da direção geral do Monitor, afirma que é difícil cravar o que levou à desidratação do público bolsonarista, mas diz que as declarações de Bolsonaro sobre os seus apoiadores que invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro, de 2023, podem ter repercutido mal entre sua base. “Não dá para cravar, mas é algo a se considerar. Às vezes, eles conseguem reverter essas narrativas, mas, por ora, esse desgaste pode ter pesado”, explica o pesquisador.
Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em 10 de junho, Bolsonaro chamou os seus apoiadores que pedem uma intervenção militar de “malucos”. “Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas… que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali”, afirmou o ex-presidente, que é réu na Corte por tentativa de golpe de Estado.
Outro fator que pode explicar a baixa adesão é o curto prazo de divulgação: o ato foi anunciado com apenas cinco dias de antecedência. Em mobilizações anteriores, houve mais tempo para organização e mobilização da base. “Eu tenho colegas pesquisadores que nem estavam sabendo desse ato porque foi chamado de última hora, não teve tanta divulgação quanto outros que tiveram anteriormente. Às vezes a gente dá menos atenção, mas pode ser uma coisa tão simples quanto isso”, diz Moretto.
A despeito dos motivos, o “fato concreto é que o ato estava esvaziado” e “Bolsonaro visivelmente abatido”. “Às vezes tem um ato com pouca gente, mas tem uma grande empolgação, e as pessoas estão ali muito energizadas e entusiasmadas. Não me pareceu que era o caso. Eu acho que foi um ato particularmente melancólico, antecipando os resultados do processo que ele está sofrendo”, concluiu o pesquisador.
A expectativa é que Bolsonaro e os outros sete réus sejam condenados até o fim do ano pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado, com penas que podem variar de 20 a 26 anos de cadeia.
Neste domingo (29), o ex-presidente e seus aliados transformaram a avenida Paulista em um espetáculo pirotécnico com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pedidos de anistia aos golpistas de 8 de janeiro.
Ignorando as acusações que enfrenta, o ex-presidente evocou “Deus, pátria e liberdade” para reforçar a narrativa de que há uma conspiração institucional para impedi-lo de retornar ao poder. “Golpe de Estado com idosos, com mulheres, com mães, com bandeira nas costas, com a Bíblia embaixo do braço? O golpe se dá com Forças Armadas, com armamento, com o núcleo financeiro, com o núcleo político, com apoio de instituições, inclusive fora do Brasil. Que golpe é esse, meu Deus do céu?”, disse o presidente conforme o volume da ambientação sonora subia.
Ele também pediu anistia aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023, que invadiram e depredaram os prédios dos três Poderes em Brasília, numa tentativa de manter o ex-presidente no poder. “Se alguém aqui agora está reclamando da sua vida, lembre-se que pessoas iguais a você, inocentes, humildes, mães, pais, avós, agora estão olhando para cima e vendo um concreto de uma penitenciária. Alguns acham que são imortais, mas o dia de todos nós chegará”, afirmou.