O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou, nesta quinta-feira (3), a ex-presidenta da Argentina Cristina Kirchner no departamento de San José, em Buenos Aires, onde a ex-mandatária cumpre prisão domiciliar. O encontro ocorreu logo depois da cúpula do Mercosul, realizada na capital argentina.
A reunião foi marcada por um forte esquema de segurança. O local está isolado e Kirchner não pode receber apoiadores nos arredores da residência. Depois da visita, ela publicou um texto nas redes sociais agradecendo o presidente brasileiro e contestando a decisão da Justiça. Para ela, o judiciário mostrou sua “subordinação política” e se tornou “um partido político a serviço do poder econômico”.
“Lula também foi perseguido, também usaram a guerra jurídica contra ele até prendê-lo, também tentaram silenciá-lo. Não conseguiram. Ele retornou com o voto do povo brasileiro e de cabeça erguida. Por isso, hoje, sua visita foi muito mais do que um gesto pessoal: foi um ato político de solidariedade”, afirmou Kirchner em suas redes sociais.
A visita de Lula é a primeira de um líder internacional para Kirchner desde a sua prisão, em 17 de junho, e foi autorizada pela Justiça argentina depois de um pedido da própria ex-presidenta. Lula não fez uma declaração à imprensa depois do encontro.
Cristina afirmou que a Argentina vive uma “deriva autoritária” na gestão de Milei e que o ultraliberal faz um “terrorismo de Estado de baixa intensidade”. Ela denunciou também a perseguição a jornalistas e veículos de comunicação e pessoas que se manifestam contra o governo nas redes sociais. Kirchner comparou essa postura com a ditadura de Augusto Pinochet no Chile: perseguição política violenta e liberalização da economia.
A visita de Lula foi um marco para a prisão de Kirchner que, até então, só podia receber a visita de familiares, advogados e médicos.
Cristina cumpre pena de seis anos. A sentença foi confirmada no último dia 10 pela Suprema Corte argentina, em um processo que sua defesa classifica como perseguição política. Para visitar a ex-presidenta, o Itamaraty deverá solicitar autorização oficial, já que a lista de pessoas autorizadas a entrar na residência é controlada judicialmente.
Cristina Kirchner foi condenada a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para exercer cargos públicos pelo caso conhecido como Causa Vialidad. Ela é acusada de favorecer o empresário Lázaro Báez em 51 projetos de estradas públicas a partir de licitações públicas na província de Santa Cruz durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner entre 2003 e 2015.
A prisão domiciliar imposta a Kirchner inclui uma série de restrições rigorosas. Ela deverá permanecer no endereço fixado e só poderá sair com autorização prévia do tribunal, salvo em casos devidamente justificados por razões de força maior. A obrigação de se abster de “provocar distúrbios na convivência com a vizinhança”, é uma determinação que visa conter o grande fluxo de pessoas que, nos últimos dias, têm se dirigido à região para apoiá-la.
Após a confirmação da sentença, Lula telefonou para Cristina e manifestou solidariedade. “Falei da importância de que se mantenha firme neste momento difícil”, escreveu o presidente brasileiro em sua conta na rede social X. “Notei com satisfação a maneira serena e determinada com que Cristina encara essa situação adversa.”
A ex-presidenta, no entanto, não visitou Lula quando ele esteve preso na sede da Polícia Federal em Curitiba. Durante o período, o então candidato à presidência Alberto Fernández foi o representante argentino para visitar o petista em maio de 2019. O brasileiro também recebeu a visita dos ex-presidentes da Colômbia, Ernesto Samper, e do Uruguai, Pepe Mujica.
O último encontro oficial entre os dois aconteceu em maio de 2023, durante a cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Na ocasião, Lula era presidente do Brasil e Kirchner estava no último ano de seu mandato como vice.