O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que vai taxar em 50% os produtos importados do Brasil não deve gerar um efeito devastador imediato sobre a economia do país, na avaliação de Marco Antonio Rocha, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele afirma que impactos pontuais podem ser regionais, afetando setores específicos como o agronegócio e as autopeças.
“Há uma dúvida sobre se realmente essa medida vai ser levada adiante, como basicamente tudo dentro do governo Trump. […] Para a economia brasileira como um todo, os efeitos não vão ser tão severos. O problema é que, regionalmente, pode afetar municípios e regiões de forma muito específica”, diz. O professor cita o Vale do Paraíba, conhecido pela produção de autopeças, e regiões produtoras de café e carne como possíveis áreas atingidas. Segundo ele, os impactos diretos devem ser maiores para trabalhadores e pequenos produtores do que para os grandes exportadores.
Rocha alerta que o maior risco da medida está em uma possível escalada política. “Embora os impactos imediatos desse anúncio não sejam tão significativos, o Brasil tem que estar preparado para uma espécie de escalada, porque isso está relacionado, na verdade, não a questões econômicas, mas a questões políticas e geopolíticas em que o Brasil está envolvido”, explica. Para ele, o Brasil virou um “alvo simbólico preferencial” do governo Trump, que tenta reagir à atuação geopolítica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao fortalecimento dos Brics, presidido hoje pelo país.
Ao comentar os efeitos sobre o custo de vida, Rocha disse não ver espaço para queda de preços no Brasil. Pelo contrário, ele acredita que a medida pode pressionar a inflação. “A alta do dólar tem potencial de espalhar o centro da inflação, atinge uma série de produtos da cesta de consumo que podem ficar mais caros”, indica.
Resposta cuidadosa
O economista opina que a resposta brasileira precisa ser política e cuidadosa para não agravar a situação. “Vale evitar as disputas tipicamente comerciais, de reciprocidade tarifária, porque não é esse o caso. Tem que ser tratado politicamente. Está ganhando força no debate a possibilidade, por exemplo, de quebra de certas patentes, sobretudo sobre fármacos. Essa é uma resposta prevista dentro da finada OMC [Organização Mundial do Comércio] e talvez seja uma boa resposta”, sugere.
Para Rocha, o governo Lula deve buscar firmeza simbólica sem penalizar a população. “Tem formas de retaliação que são possíveis de fazer sem trazermos com elas uma pressão inflacionária no momento em que estamos nos avizinhando a uma eleição. A melhor resposta seria procurar retaliações que não onerem o cidadão brasileiro e que sejam simbólicas em relação ao exercício da soberania. Acho que é o principal recado a ser passado”, avalia.
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