Trump usa o clã Bolsonaro para seus interesses econômicos e geopolíticos. Sim, como diria o grupo Molejo, não era amor (por Jair), era cilada (para o Brasil). Mas o clã não apenas se deixa usar, como faz questão de deixar isso claro. Tanto que Eduardo Bolsonaro correu para chamar a si os louros pela mão peluda de Trump sobre os produtos brasileiros. Lula agradece, pois não é todo o mundo que traz o problema, mas já apresenta a solução.
Aos celebrar as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente norte-americano, que citou o julgamento de Jair por tentativa de golpe de Estado como uma das razões, o deputado federal licenciado foi bem claro:
“Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump — sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”, disse em nota divulgada ao público.
Os trabalhadores e empresários de São Paulo e Santa Catarina, que possuem nos EUA o grande parceiro comercial fora do país, devem estar se perguntando: “sucesso para quem?” Ironicamente, ambos estados são governados por bolsonaristas que saúdam Trump e sobem gostosamente em carros de som durante atos que atacam o STF e defendem o golpismo de Jair.
Eduardo Bolsonaro grita “fui eu!” em praça pública não apenas por questões de vaidade – não deve ter lido, na Bíblia, o primeiro capítulo do livro de Eclesiastes. Mas para se diferenciar do governador paulista, frente aos seguidores mais radicais de seu pai, na disputa para ver quem será ungido pelo inelegível Jair a fim de representá-lo na eleição presidencial de 2026.
Lula, que adora uma metáfora futebolística, agradeceu a bola quicando e não teve muito esforço para dar uma bicuda.
“Aquela coisa covarde [Jair], que preparou um golpe nesse país, não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado e mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça: ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro, vou taxar vocês'”, disse o presidente nesta sexta (11).
“A coisa mandou o filho, que era deputado, se afastar da Câmara, pra ir lá para os Estados Unidos, ficar pedindo: ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, salva meu pai, não deixa meu pai ser preso'”, afirmou também.
“Vocês viram ontem o filho dele [Eduardo] na internet lendo uma carta: ‘Trump fala que você não vai taxar [o Brasil] se meu pai não for preso’. Que tipo de homem que é esse? Que não tem vergonha de enfrentar o processo dele de cabeça erguida e provar que é inocente”, apontou ainda.
A conexão da ação de Eduardo com os interesses de Jair se deu pelo próprio ex-presidente, que já confirmou ter mandado R$ 2 milhões para manter o filho nos EUA enquanto ele está realizando as articulações.
O deputado e seus aliados vêm criticando Tarcísio de Freitas por estar se movimentando na questão do tarifaço. Presidenciável, o governador paulista quer aparecer bem na fita apoiando Jair, mas também com empresários e trabalhadores, vendendo-se como alguém capaz de resolver o problema – por mais que a questão seja de competência federal. Eduardo crê que isso tira a faca do pescoço do país, que ele ajudou a colocar, antes que o Congresso aprove uma anistia.
No meio do furdúncio, Lula marca o segundo gol em poucas semanas (o primeiro, foi no debate sobre ricos vs pobres), o que é uma boa notícia para um governo que estava nas cordas e com baixa popularidade.
Em tempo: Seria melhor que Eduardo e Tarcísio escolhessem um outro método para decidir quem será o candidato de Bolsonaro. Prévias, talvez? Uma série de cinco partidas de truco? Por enquanto, quem sai perdendo com uma nação estrangeira cacetando nossa economia sob a justificativa de salvar da cadeia um homem que tentou um golpe são os trabalhadores e os empresários de São Paulo e do Brasil.