A queda de braço entre o governador Cláudio Castro (PL – RJ) e Rodrigo Bacellar (União – RJ), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) continua. Na última sexta-feira (11), Castro anunciou o cancelamento das férias para não se ausentar do cargo e permitir uma nova posse de Bacellar. Em outra situação, a transferência de cargo seria para o vice-governador, no entanto, Thiago Pampolha deixou o cargo para se tornar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) no final de maio.
A disputa entre os dois políticos de extrema-direita se acirrou depois da exoneração do então secretário de Transportes e presidente estadual do MDB Washington Reis. A demissão, feita por Bacellar em 3 de julho, foi seu primeiro ato enquanto governador em exercício. No retorno das férias, Castro ameaçou reverter a decisão, medida que tinha apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), mas voltou atrás em nome do bom convívio com a Alerj. Em declaração à imprensa, Castro disse que o presidente da Alerj foi “desrespeitoso” e que a decisão de demitir Reis já havia sido tomada antes de sua exoneração ser realizada. Tanto Reis quanto Bacellar têm pretensões de concorrer ao governo do estado. No entanto, apenas Bacellar anunciou sua pré-candidatura.
No lugar de Reis assumiu a advogada Priscila Sakalem, que atuava como assessoria do Gabinete do Governador. Sakalem já estava à frente do Grupo de Trabalho do processo de transição do sistema de trens metropolitanos para o futuro operador.
Busca por protagonismo
Ao Brasil de Fato, a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart avalia que os episódios deixam o governador mais frágil e que a melhor saída política para Castro é conseguir uma vaga para concorrer ao Senado Federal, inclusive para manter seu foro privilegiado e evitar investigações. “Ele é o que a gente chama na ciência política de ‘pato manco’, aquele político com pouca expectativa de poder”, disse. Já o presidente da Alerj caminha no sentido oposto. Político influente, Bacellar foi reeleito presidente da Casa sem nenhum voto contrário em fevereiro de 2025, um feito inédito.
Bacellar era secretário do governo Castro e tinha apoio do governador quando foi eleito presidente da Alerj pela primeira vez em fevereiro de 2023. Essa eleição foi responsável por um racha no PL, uma vez que haviam dois candidatos da sigla para a presidência da Casa, mas Jair Bitencourt, apoiado por Bolsonaro, retirou sua candidatura às vésperas da eleição. Desde então, explica Goulart, o presidente da Alerj tem buscado mais protagonismo dentro do governo e na máquina do estado. Em 2024, ele deixou o PL e se filiou ao União.
E ele conquistou. Em 14 de maio, Rodrigo Bacellar anuncia sua pré-candidatura ao governo do estado pelo PL e na semana seguinte o então vice-governador, e um dos cotados para concorrer ao Palácio da Guanabara, é indicado para o cargo de conselheiro no TCE.
O candidato do União fará uma disputa direta com o atual prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD-RJ), tendo a segurança pública como principal plataforma de ambos para a eleição. Apesar de serem candidaturas à direita, Goulart faz algumas diferenciações. “Paes é um político relativamente tradicional, que pensa em política pública para as diferentes áreas e articula isso a uma concepção mínima de desenvolvimento para o Estado ou para a cidade. No caso de Castro, Bacellar e dos políticos de extrema-direita de modo geral, eles têm um discurso para a segurança pública voltado para o punitivismo, sem que estes discursos sejam articulados a políticas públicas orientadas por um projeto de desenvolvimento maior. E isso faz com que, ao mesmo tempo, seus discursos sejam mais simples, e às vezes consigam até mais adesão popular, mas enquanto projeto eles são menos complexos”, analisa.