Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (21) indica que quase um quarto dos municípios brasileiros apresentam indicadores de gravidez na adolescência comparáveis aos das nações mais pobres do mundo.
De acordo com o estudo, cerca de uma em cada 23 adolescentes entre 15 e 19 anos se torna mãe a cada ano no território nacional. Entre 2020 e 2022, o Brasil registrou mais de um milhão de nascimentos nessa faixa etária. Em países desenvolvidos, essa proporção é de uma em cada 90 adolescentes anualmente.
Além disso, os dados apontam mais de 49 mil casos entre meninas de 10 e 14 anos. Pela lei brasileira, qualquer gestação nessa idade é considerada resultado de estupro de vulnerável.
A taxa nacional de fecundidade na adolescência é de 43,6 nascimentos por mil adolescentes. O resultado é quase o dobro do observado em países de renda média-alta (24 por mil), grupo ao qual o Brasil pertence, segundo classificação do Banco Mundial.
Ainda de acordo com a pesquisa, 69% dos municípios brasileiros possuem taxas piores que as esperadas para uma nação dessa faixa. Um em cada cinco tem indicadores tão altos quanto os de países de baixa renda.
O cenário contrasta com a fecundidade total da população adulta no Brasil, que é de 1,6 filhos por pessoa, muito próxima das taxas de países de renda alta.
Abismos sociais
A pesquisa encontrou relação direta entre as taxas de gravidez na adolescência e a desigualdade social. A conclusão é de que a privação socioeconômica é o fator mais associado aos resultados.
No cruzamento dos dados com o Índice Brasileiro de Privação (IBP), municípios com maior escassez de recursos, baixa renda, analfabetismo e infraestrutura precária concentraram as mais altas taxas de fecundidade antes da idade adulta.
O estudo revela ainda um profundo abismo entre as regiões do país. A região Sul apresenta uma taxa de 35 por mil, enquanto a região Norte registra mais que o dobro, atingindo 77,1 por mil.
Essa disparidade se reflete na classificação dos municípios. Mais de 75% das cidades do Norte se enquadram na faixa de fecundidade de países de baixa renda, enquanto no Sudeste essa proporção é de apenas 5,1% e, no Sul, 9,4%. No Nordeste, o resultado foi de 30,5% e, no Centro-Oeste, 32,7%.
O estudo inédito é do Centro Internacional de Equidade em Saúde da Universidade Federal de Pelotas (ICEH/UFPel) em parceria com a Umane.