A intensificação das investigações da trama golpista e as medidas cautelares adotadas na última quinta-feira (17) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão antecipando o debate eleitoral e acirrando disputas internas no campo da extrema direita diante da aproximação da eleição de 2026. É o que avalia o jornalista e analista político Igor Felippe, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Na medida em que o cerco se fecha em torno de Jair Bolsonaro, isso precipita o processo de definição de quem vai ser o candidato para representar a posição da extrema direita no processo eleitoral, […] acaba precipitando o debate eleitoral e aprofunda as divisões no campo da direita”, afirma.
Ele aponta que nomes como o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, já se movimentam, mas devem enfrentar embates internos.
“Se sinaliza que Michelle Bolsonaro será a porta-voz de Bolsonaro nesse momento em que ele tem as medidas cautelares, então ela já se coloca como uma candidata para representar o bolsonarismo e a extrema direita”, avalia. “Bolsonaro, mesmo nessa situação, tem evitado abrir mão da candidatura, mas como a situação vai se deteriorando, isso vai acabar agudizando as contradições”, complementa.
Crise radicaliza ainda mais a extrema direita
Para Felippe, a crise bolsonarista também acirra a ofensiva da extrema direita contra o Supremo Tribunal Federal (STF). “Essa operação contra Jair Bolsonaro vai levar a uma radicalização maior da extrema direita, que precisa gritar mais alto para ser ouvida pelas instituições e pela sociedade”, avalia. No entanto, ele acredita que essa radicalização tende a isolar ainda mais esse setor.
“Eles utilizam o processo de Bolsonaro para enfrentar o STF, mas não têm como centralidade a defesa do Bolsonaro, e sim dos seus próprios interesses”, afirma. Ele aponta que a maioria do Congresso Nacional está focada em agendas corporativas e que não há força suficiente para suspender o recesso parlamentar, como sugere a oposição.
O analista ressalta que o apoio social ao ex-presidente tem diminuído. “Dificilmente ele encararia ir para a prisão. Acho que ele vinha tentando viabilizar uma saída do país para manter a sua voz política de fora e construir essa ideia de vítima. Mas a situação ficou muito mais difícil”, analisa.
Ofensiva bolsonarista fortalece governo
O analista também observa que, ao contrário do que Bolsonaro tentou provocar, o governo Lula (PT) tem evitado uma postura ostensiva frente às investigações, deixando que o Judiciário conduza o processo. “O governo, para evitar uma imagem de que todos os poderes estão contra o Bolsonaro, tem se mantido distante desse debate”, observa.
Ainda assim, ele nota que o presidente Lula adotou uma postura mais firme após a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “O governo tem se posicionado de forma firme em defesa da economia brasileira e da soberania nacional”, opina.
Para Felippe, o bolsonarismo busca transformar o ex-presidente em vítima de uma perseguição política, mas a tentativa pode não surtir efeito. “A cartada de Trump foi muito alta e a reação foi muito dura, o que inviabiliza a possibilidade do Bolsonaro sair do país”, aponta. Ele acredita que o ex-presidente cogitou fugir do Brasil, mas perdeu margem de manobra diante da postura firme do STF, da Polícia Federal e do próprio Lula.
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